São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Bastidores dos Transportes

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Foi uma manobra de última hora que embananou a indicação do ministro dos Transportes na semana passada. Já estava tudo certo que seria Aloysio Nunes Ferreira (PMDB-SP).
Isso desagradara a duas importantes figuras do PMDB: o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), e o líder do partido naquela Casa, Geddel Vieira Lima (BA). E eles reagiram.
A reação veio no episódio da famosa questão de ordem apresentada por Inocêncio Oliveira (PE), líder do PFL na Câmara, para impedir que os partidos de oposição apresentassem muitos destaques na votação da reforma administrativa.
Questão de ordem apresentada, Michel Temer encaminhou o tema para a Comissão da Constituição e Justiça (CCJ).
Ali, o grupo de Geddel Vieira Lima pensou rápido. "Esse Aloysio não vai ser ministro? Vamos jogar essa questão de ordem para ele relatar".
Tratou-se de uma ação para constranger Aloysio, um deputado com ligações antigas com a esquerda. Ele se negou a ser o relator.
Mais rápido do que uma bala, um aliado de Geddel telefonou para o Palácio do Planalto. Disse mais ou menos o seguinte:
"Olha, o Aloysio não quer relatar. Alegou problemas de consciência. Nós vamos colocar outro para relatar, pois no nosso grupo não ficamos constrangidos na hora de apoiar o governo, embora não sejamos tão privilegiados na hora de receber as recompensas".
O resto é conhecido. A indicação de Aloysio Nunes Ferreira para os Transportes foi abortada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
O PMDB fez uma declaração pública -da boca para fora- dizendo que não quer mais indicar os ministros.
E o presidente ficou encalacrado.
Agora, Michel e Geddel trabalham para indicar um nome para os Transportes que possa sinalizar que eles continuam fortes perante o governo.
É uma incógnita se o desfecho será favorável para FHC, Michel e Geddel. Mas esse episódio de queimação de Aloysio Nunes mostra que os interesses pelos Transportes são gigantescos.

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