São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Maioria dos sem-teto é experiente em invasões

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos invasores do Conjunto Habitacional Juta 2, em São Mateus, tem experiência em ocupar prédios vazios.
"A gente morava em um barraco invadido no Parque São Rafael (também em São Mateus). Só que lá as condições eram piores. Por isso resolvemos mudar", disse o desempregado Itamar Vieira, 29, que ocupa há 19 dias um dos apartamentos, com mulher e três filhos.
Os invasores vieram, em sua maioria, de três lugares: do Parque São Rafael, do bairro de Sapopemba e do Nordeste. São famílias de pelo menos cinco pessoas, em que os adultos ou são desempregados ou não têm emprego fixo.
A forma de comunicação entre eles foi o boca-a-boca. Assim ficaram sabendo que havia apartamentos vazios no conjunto habitacional e resolveram invadir.
É o caso da baiana Maria José de Souza, 39. Ela divide com o marido e três filhos um dos apartamentos de dois quartos, que não tem água nem luz. Seu marido faz bico de motorista e ela está desempregada.
Antes de se mudar, eles pagavam R$ 300 de aluguel por um barraco de um cômodo em uma favela em Sapopemba. "Viemos para cá porque não tínhamos para onde ir. Não é por opção. É porque o dinheiro não dá." Ontem, Maria José levou os filhos para um lugar "mais seguro" e esperava no local da invasão que o marido chegasse para poder "trocar de turno".
"Estou aqui desde ontem à noite. Quando ele chegar, vou descansar", disse.
Maria José conta que viu todo o confronto. "Eles (os PMs) jogaram os cavalos em cima de uma mulher grávida, e os moradores reagiram com pedradas. Mas foi só isso. Essa história de que a gente tem armas é mentira."
Anteontem à noite, já sabendo da desocupação, a maioria dos moradores se reuniu em frente aos prédios para esperar a polícia. "Acendemos fogueiras para nos aquecer e fizemos um sanduíche", disse Adeusita dos Santos, 33.
Depois, eles começaram a reunir telas de arame e fizeram uma espécie de barricada para evitar a entrada da polícia. "Sabíamos que eles viriam, mas achávamos que eles iriam negociar. Nunca imaginamos toda essa violência. Só jogamos pedras para nos defender", disse a baiana Maria de Lurdes Faria dos Santos, 38, que também levou os filhos para a casa da família e que pretendia fazer vigília.
Esse era o plano de dezenas de moradores que continuavam sentados ao redor dos prédios -ficar acordados para evitar que a polícia voltasse a agir.

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