São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Espetáculos são baseados em pinturas

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O cristianismo de Kazuo Ohno vem de sua mãe, que morreu em 1961 e que é outra fonte de inspiração do artista. "Com minha mãe experimentei uma emoção total. A melhor comida e o melhor amparo que já tive vieram dela. A única coisa que lamento é que morreu antes que eu pudesse lhe mostrar meu trabalho", afirma Ohno.
Quando estreou na Europa em 1980, na cidade francesa de Nancy, Ohno realizou um de seus sonhos ao dançar em meio à nave de uma igreja, ao de som de música de Bach, interpretada por um pianista cego. Mais tarde, ele observou:
"Acompanhei os fiéis até a saída, para me despedir deles, e aí notei que havia uma imagem da Virgem Maria, com o Menino Jesus. Com uma flor de papel que tinha em minhas mãos, fiz cócegas nos pés do Menino Jesus e ali ficamos nós três -a Virgem Maria, o Menino Jesus e eu- a brincar alegremente... Enquanto nós três brincávamos, orei por Judas, do fundo da minha alma".
Segundo estudiosos da obra de Ohno, sua presença consegue sempre ser um evento por causa da unidade e da coerência entre o homem e o artista. Para Ohno, vida privada e carreira artística implicam as mesmas exigências.
Em busca de uma memória ancestral do corpo, Ohno transporta para o palco a unidade universal, que funde vida e morte, masculino e feminino, prazer e dor, Ocidente e Oriente. Tal síntese ele chama de butô -um conceito que, hoje, assume diferentes significados, dependendo do intérprete.
"Perguntar o que é butô é o mesmo que perguntar o que é ser humano", respondeu Ohno a um jornalista na segunda-feira.
Também nos diferentes espetáculos que apresentará em São Paulo, Ohno procura estabelecer unidade. "Tendoh Chidoh", programado para hoje e amanhã, estreou em março deste ano no Japão. Para compor essa obra, Ohno inspirou-se na pintura do japonês Shohaku Soda (1730-1781). Da mesma forma, a segunda peça, que Ohno interpretará sábado e domingo, se inspira em outro pintor, Claude Monet.
"As obras desses dois pintores me estimulam a mesma questão, sobre o que é a vida, o que o universo nos dá, e o amor é a resposta que sempre me ocorre."
(AFP)

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