São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Línguas e etnias dividem o país

Colonização belga acirrou as rivalidades

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Os pigmeus são considerados os primeiros habitantes de toda a bacia do rio Congo. Teriam ocupado a região já no Paleolítico Superior. Seus poucos remanescentes (os twas, bambutis e babingas) encontram-se hoje restritos a florestas mais próximas às nascentes do Congo.
A população banta atualmente predominante só teria chegado entre os séculos 10 e 14, vinda do norte e do oeste. Conseguiram estabelecer alguns reinados importantes que só começaram a sucumbir a partir das primeiras incursões européias, no século 16. Destacam-se aí os reinos dos bakongos, batekes, balubas, bapendes, yakas, balundas, basonges, batetelas e bakubas.
Alguns dos principais grupos étnicos atuais da região ainda guardam relação com os antigos reinos: bakongos, balubas, basonges e balundas (principalmente); existem, contudo, outros importantes grupos com um passado menos esplendoroso, como os bamongos entre muitos outros.
Saindo da esfera dos bantos e pigmeus, há minorias sudanesas (zandes, bandas e barambos) e nilóticas (tutsis, baris, logos).
Em termos linguísticos, a confusão não é menor. São mais de 200 línguas e dialetos, mas as quatro principais línguas nacionais (suaíle, kiluba, lingala e kikongo) possibilitam uma intercomunicação razoável. Na capital do ex-Zaire, Kinshasa, o lingala vem ganhando prestígio, tendo sido a língua oficial dos militares. A única língua, contudo, que era de fato oficial é o francês, usado nas escolas, negócios e administração.
Em termos religiosos, a introdução do cristianismo quase que suplantou as antigas crenças anímicas e ritos a ancestrais. Existe, até mesmo, uma igreja cristã local denominada Igreja de Jesus Cristo na Terra, fundada pelo pregador Simon Kimbangu, também conhecida como kimbanguismo.
Para agravar ainda mais esse já verdadeiro mosaico étnico-linguístico, há as intestinas rivalidades entre clãs, podendo ser da mesma ou de outra etnia, pouco importa.
É importante aqui mencionar que o tipo de colonização que cada parte do continente recebeu foi fator preponderante para o grau de disputa entre os clãs. Na África Central, a colonização belga, uma das mais predatórias, utilizava-se de antigas rusgas para facilitar a sua própria administração, o que sem dúvida ajudou a acirrar as rivalidades.
Embora existam vários países que incluem mais de um grupo étnico ou linguístico ou até mesmo religioso (a própria Bélgica é um exemplo), o que surpreende aqui é que o ex-Zaire já tenha um dia sido chamado de nação.

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