São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Somos imaturos

GILBERTO DIMENSTEIN

A possibilidade de uma CPI do Voto foi entronizada nos relatórios produzidos pelos bancos internacionais, deixando apreensivos os investidores. Tem sentido? Tem.
O temor é que a investigação descambe para a guerra eleitoral, paralisando o país.
Há no ar uma espécie de chantagem, traduzida no seguinte raciocínio: se o Congresso investigar corrupção, as reformas param, comprometem o combate à inflação e o crescimento econômico.
Só a imaturidade explica essa equação. Por que reformas vitais devem parar ou diminuir o ritmo enquanto se investigam eventuais falcatruas? Quem olha o nível de emprego sabe que não há tempo a perder.
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Há uma rede de imaturidades, além da fragilidade dos partidos. Ainda não sabemos usar o instrumento das CPIs com equilíbrio. Elas acabam transformadas em palcos iluminados e cenário de desforras. Alguém tem dúvida de que na CPI do Voto, com ou sem indícios, vão pedir o fim do sigilo bancário de Sérgio Motta?
Políticos manejam informações confidenciais, tirando vantagem do instinto do repórter pelo furo. Não conheço um único jornalista que tenha saído ileso dessa briga, reproduzindo imprecisões ou mesmo inverdades, na pressa de dar a notícia.
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Monta-se, assim, uma explosiva aliança entre políticos que têm um agenda eleitoral e jornalistas com medo de serem furados pelo concorrente. Daí, todos sabemos, suspeita vira indício, indício vira prova.
Para piorar, a oposição está sem bandeira, enfrentando um presidente popular e forte candidato à reeleição. A CPI do Voto vem de bandeja.
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O problema é que, se não fizermos investigações isentas sobre corrupção, permanecem os vícios que atrasam o país. Na verdade, apesar dos exageros, as CPIs têm ajudado a criar hábitos políticos mais saudáveis.
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PS - Por falar em maturidade, há tempos não lia um depoimento tão lúcido e equilibrado como o do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho, da CUT. Ele teve coragem de propor menos greves para atrair mais capital. Marinho deve conhecer relatórios produzidos nos EUA indicando que, por excesso de produção, paira o perigo de fechamento e fusão de fábricas automobilísticas.

Fax: (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com

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