São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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O mordomo e a Folha

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Lamento ter que avisar aos distraídos: a Folha não é o mordomo das velhas histórias policiais, tradicional suspeito de qualquer tipo de crime.
A muitos leitores, o aviso pode parecer desnecessário. Mas o fato é que se tece uma sibilina conspiração para inverter as coisas e transformar em criminoso quem apenas denunciou um crime (no caso, a compra de votos em favor da reeleição).
É uma frase solta, aqui, dizendo, por exemplo, que o jornal "inchou" o caso. É uma acusação, ali, de ter supostamente publicado uma manchete exagerada ou até mesmo incorreta. Ou então um esforço para demonstrar que o "Senhor X" é um ex-deputado que não merece fé, por não ser dos mais santos (como se envolvidos em um escândalo do gênero pudessem ser santos).
Não sei quem é o "Senhor X" e, a não ser por mera curiosidade jornalística, não me interessa saber. O que é relevante, do ponto de vista político, é que as fitas são autênticas e que as acusações são tão plausíveis que o partido dos envolvidos (o PFL) aceitou-as como verdadeiras e expulsou dois dos envolvidos, antes mesmo de que fosse feita a perícia nas fitas.
A conspiração envolve alguns dos poderosos de turno, meios de comunicação que já se julgaram titulares de um suposto monopólio no zelo pela coisa pública, bajuladores de plantão, para tentar limpar a imagem dos governantes do momento, e os morcegos da política e da economia, que preferem, sempre, trabalhar no escuro, porque fazem negócios mais facilmente, em vez de permitir que entre um mínimo de luz para iluminar esses e outros negócios.
O que o mordomo dessa história fez foi, pura e simplesmente, cumprir o dever de informar a seu patrão (o leitor) o que sabia.
Satanizar o mordomo pode ser altamente conveniente para alguns, talvez para muitos, mas não apaga nem os fatos nem as fitas.

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