São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 1997
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Política e economia

ANTONIO DELFIM NETTO

A antecipação das eleições gerais para o Parlamento francês pelo presidente Jacques Chirac mostra a completa ligação existente entre a política e a economia. Elas estavam previstas para março de 1998.
Parece estranho que, dispondo de maioria folgada, o presidente tenha tomado a decisão de correr enorme risco um ano antes do prazo natural.
A explicação talvez seja a seguinte: 1) Há, ainda, muitos ajustes dolorosos a serem feitos (controle dos custos dos sistemas de saúde, por exemplo) e o governo estima que será melhor fazê-los depois de uma eleição geral; 2) a França sacrificou-se substancialmente para manter o "franco forte" e classificar-se para entrar na fundação da nova Europa, que deve inaugurar a moeda comum (o EMU) em 1º de janeiro de 1999. Chirac deseja chegar à mesa de negociações fortalecido e sem que as consequências da unificação sejam um ponto de debate interno justamente no momento das discussões finais das condições de Maastricht.
Para entender o primeiro ponto, é preciso lembrar que uma dessas condições é um déficit nominal de, no máximo, 3% do PIB em 1998. Esse déficit foi de 4,8% em 1995, de 4,1% em 1996 e, espera-se, 3,6% em 1997.
A redução do déficit em 1997 conta com o auxílio dos recursos provenientes da privatização da France Télécom (37,5 bilhões de francos), alguma coisa parecida com 0,5% do PIB, o que significa que, sem esses recursos, o déficit de 1997 seria próximo de 4% do PIB. O corte para 1998 é da ordem de 1% do PIB, cerca de 80 bilhões de francos.
O segundo ponto está ligado ao fato que o crescimento francês continuará muito baixo se não houver estímulo a despesas de consumo. E esse aumento depende de restabelecer a confiança da população na economia.
A última coisa a ajudar nessa direção seria uma campanha eleitoral longa. É por isso que o primeiro turno será no próximo dia 25 de maio e o segundo já no dia 1º de junho.
A economia francesa tem crescido muito pouco (2,2% em 1995; 1,3% em 1996 e talvez 2,2% em 1997), com taxas de inflação entre as menores do mundo (1,7% em 1996 e talvez 1,8% em 1997).
O problema é que a participação dos salários sobre o valor adicionado pelas empresas caiu de maneira dramática desde a introdução da política do "franco forte" (de 66% no período 1976/1984 para algo em torno de 60% no período 1984/1996), aumentando as margens de lucro das empresas sem que houvesse aumento dos investimentos.
A campanha eleitoral está sendo extremamente dura, porque Chirac insiste na necessidade de mais um pouco de sacrifício. O Partido Socialista propõe o fim da "austeridade" ou, pelo menos, algum alívio: 1) Redução da jornada semanal de 39 para 35 horas, sem corte salarial; 2) estímulo fiscal para o aumento do consumo, com a perspectiva de redução do desemprego; 3) uma política salarial "coordenada", um pouco mais generosa; 4) dar emprego para 700 mil jovens (metade do serviço público!); 5) aumentar a tributação do capital para poder reduzir a do trabalho.
As consequências desse "alívio", entretanto, podem ser dramáticas para a estabilidade do franco se uma coalizão de esquerda vencer as eleições, o que hoje não parece provável.

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