São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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Comando da PM erra de novo no caso sem-teto

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O comando da PM errou no planejamento da reintegração de posse na Fazenda da Juta. Mandou homens do patrulhamento normal em vez da tropa de choque.
Esse erro vem sendo feito nos últimos dois anos por causa de uma norma do CPM (Comando de Policiamento Metropolitano). Responsável pelo policiamento na Grande São Paulo, o CPM tornou os batalhões de bairros responsáveis pelas ações de reintegração.
Pela norma, a tropa de choque só deve ser usada depois. "Eu tenho que me pautar pela orientação do comando", disse o tenente-coronel João Izaias Boscatti, que chefiou anteontem os policiais no local do confronto.
Os policiais dos batalhões de bairros usam revólveres e não têm capacetes, escudos a prova de balas e armas que disparam balas de borracha. Eles também não possuem treinamento recente para enfrentar distúrbios civis.
Os homens dos pelotões de escudeiros da tropa de choque não andam armados -só os oficiais portam armas. Eles usam capacetes, escudos e coletes a prova de balas. Eles têm bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral e armas com balas de borracha.
A tropa de choque também tem o veículo antidistúrbios. Conhecido como Centurion, ele dispara jatos d'água e bombas de gás.
Embora soubesse que ia enfrentar resistência, a PM mandou à fazenda cem homens do patrulhamento normal da zona leste sem equipamento apropriado.
Subcomandante
É o subcomandante-geral da PM, coronel Carlos Alberto da Costa, quem decide onde e como será empregada a tropa da choque. Ele é o mesmo oficial que sabia da existência da fita com as imagens de violência da PM em Diadema (ABCD) e não teria comunicado esse fato aos seus superiores. A Folha procurou Costa ontem. Telefonou para seu celular às 16h e às 21h. Um assistente atendeu e disse que o coronel estava em reunião. Foi deixado recado.
Ontem, o tenente-coronel Boscatti, comandante do 21º Batalhão da PM, depôs na Comissão Permanente de Segurança Pública da Assembléia Legislativa.
Ele disse que, desde 8 de maio, a PM já sabia que deveria fazer a reintegração de posse na Fazenda da Juta. Desde a segunda-feira, os policiais sabiam que iriam enfrentar resistência dos invasores.
O tenente-coronel Boscatti disse que pediu reforços ao seu superior imediato, o coronel Cauby Zimermann da Costa, chefe da PM na zona leste. Pediu também que informasse os "escalões superiores".
Além dos 60 homens do 21º Batalhão, ele queria dois pelotões da tropa de choque (40 homens), 15 homens da cavalaria, 60 policiais de outros batalhões da zona leste e 12 policiais femininas.
Mas o tenente-coronel só recebeu 40 homens de outros batalhões e 22 do 3º Batalhão de Choque. "Também recebi menos policiais femininas do que pedi."
Crítica
A decisão de usar na operação PMs do patrulhamento normal e sem equipamentos contra distúrbios foi criticada por deputados estaduais do PT, PPB e PMDB, partidos de oposição ao governo.
"É como mandar um médico ginecologista tratar de uma criança. Se a tropa de choque fosse lá, não haveria mortes", disse o deputado e capitão da reserva da PM Roberval Conte Lopes (PPB).

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