São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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Sem-teto quer ser sem-terra 'no futuro'

LUCIA MARTINS

LUCIA MARTINS; MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Grupos de SP afirmam que gostariam de ser 'tão organizados e competentes' como o movimento do campo

O movimento dos sem-teto ainda está patinando e longe de ser "tão organizado e competente" como o do MST (Movimento dos Sem-Terra).
A avaliação dos grupos que lutam por mais habitação nas cidades é dos próprios integrantes das entidades.
"Esse episódio (o da morte de três pessoas durante conflito com a polícia anteontem) só atrapalha. Não ajuda ninguém, nem o governo e nem o movimento", disse Evaniza Rodrigues, coordenadora-executiva das União dos Movimentos de Moradia (UMM), principal grupo que reúne pessoas sem casa em São Paulo.
E acrescenta Evaniza: "Nós queremos que a nossa luta seja uma luta política, e não de incidentes como esse".
Segundo ela, isso mostra que, na verdade, os sem-teto precisam percorrer um longo caminho para ser como os sem-terra. "Eles têm um histórico de prática e competência muito mais concentrado, que deu certo."
A explicação é a seguinte: apesar de os movimentos sem-teto em São Paulo concentrarem uma experiência de pelo menos dez anos, a maioria das "ocupações" (como eles gostam de chamar as invasões de prédios) é "espontânea".
"São pequenos grupos que resolvem ocupar, sem a ajuda ou o apoio logístico das associações", disse Evaniza.
Ela calcula que metade das invasões que ocorrem hoje no Estado é feita dessa maneira "espontânea".
O sucesso das manifestações em Brasília do MST é apontado pelos grupos como "modelo" a ser seguido pelos sem-teto.
"Eles deram certo. Nós temos que fazer o mesmo", disse Roberto José dos Santos, do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra da Zona Oeste, um grupo que não é ligado ao MST e que luta pela conquista de terra na cidade de SP.
Segundo ele, está havendo grande troca de informação e de "táticas de ocupação" entre o MST e os sem-teto e sem-terra das cidades.
"Toda a nossa organização é muito semelhante à maneira de como eles (o MST) agem. Nossa luta é a mesma", disse.
Tanto é verdade que a Central de Movimentos Populares (uma associação nacional de sem-teto) está organizando uma manifestação em Brasília no mês que vem. O protesto é claramente uma "carona" na marcha feita pelo MST no mês passado.
Colaboração mútua também não falta. Os sem-teto foram à manifestação do MST (com ônibus cedidos pelo PT) e agora os sem-terra farão o mesmo.

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