São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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Desastre econômico e otimismo suicida

ALOYSIO BIONDI

Após dois anos e meio de bajulação ao Planalto, líderes empresariais, economistas e de-formadores de opinião começam a apontar os efeitos desastrosos da política de escancaramento da economia e "torra de dólares" (e de empregos) promovida pelo governo FHC.
A mudança de tom tem explicações: as importações continuam a disparar, o "rombo" da balança comercial ficou incontrolável -e o Brasil, em abril, até precisou gastar, queimar, US$ 4 bilhões de suas famosas (e fictícias, segundo alerta agora até o empresário Antonio Ermírio de Morais) reservas. Pois a realidade é ainda muito pior do que mostram as estatísticas divulgadas pelo governo, e divulgadas sem análises mais aprofundadas pelos meios de comunicação:
* Rombo total - A balança comercial (exportações menos importações) apresentou saldo negativo de US$ 4 bilhões de janeiro a abril. Mas o pior é que o Brasil apresentou "rombos" também em suas outras operações com o exterior, multinacionais etc., de nada menos de US$ 6,7 bilhões.
Isto é, o "rombo total" chegou aos US$ 10,7 bilhões, quando se soma o resultado da balança comercial mais o do balanço dos chamados serviços (fretes, juros, remessas de lucros das múltis, turismo etc.).
* Falsificação - Mesmo diante desses resultados, o governo FHC não abandona o otimismo e diz que esse "rombo", perto dos US$ 11 bilhões -em apenas quatro meses do ano...-, "não preocupa". Por quê? Porque -diz Brasília- ele pode ser coberto com empréstimos, financiamentos e até investimentos, isto é, capital estrangeiro que entra no país para comprar empresas nacionais, estatais ou, vá lá, construir novas fábricas.
É aqui que a porca torce o rabo. O governo FHC proclama que, graças à nova imagem do Brasil no exterior, etc. e tal, o Brasil captou nada menos que US$ 10,2 bilhões em aplicações no mercado financeiro. Verdade? Mentira.
As estatísticas distribuídas pelo Banco Central no último fim-de-semana mostram que, no duro no duro, no período de janeiro a abril entraram realmente US$ 10,2 bilhões especulativos, mas saíram US$ 6,5 bilhões, com saldo de apenas US$ 3,8 bilhões. Capital especulativo, que entra, é aplicado em jogadas no mercado financeiro, sai de novo, volta depois. Nada de US$ 10,2 bilhões. E, sim, US$ 3,8 bilhões.
A política de "torra de dólares" está levando o país, cada vez mais rapidamente, para um ponto de estrangulamento.
Retrato - 1
As estatísticas do Banco Central são um retrato maravilhoso dos efeitos da política de terra arrasada do governo FHC. As remessas de lucros e dividendos pelas multinacionais subiram de US$ 250 milhões para US$ 1,8 bilhão. Um salto de 620%. Em quatro meses. Por que o rombo? Efeito da "compra" de empresas brasileiras pelas multinacionais. (E também o fim de determinadas fraudes, "legais", mas isso é outra história).

Retrato - 2
Os neoliberais permitiram a destruição do Lloyd, das empresas de navegação e dos estaleiros nacionais (a produção brasileira de navios chegou a figurar entre as cinco maiores do mundo). Resultado: o Brasil está gastando horrores também com o pagamento de fretes a empresas de navegação estrangeira. Em abril deste ano, US$ 400 milhões. Em abril do ano passado, US$ 200 milhões. Os gastos dobraram. Podem chegar a US$ 5 bilhões no ano.
Suicídio
Com o "escancaramento" da economia, as contas do Brasil com o exterior estão apresentando "rombos" por todos os lados, estão mais furadas do que tecido de filó. Em lugar de repensar essa política, de alto a baixo, o governo FHC trama colocar freios na economia, na tentativa de reduzir as importações. Mais recessão, mais desemprego. Sem solucionar nada. Os empresários vão aceitar? Algo no ar diz que não.

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