São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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Sir David Willcocks rege no Municipal

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Sir David Willcocks, 77, é uma das instituições ainda vivas da música britânica. Foi organista-titular das catedrais de Salisbury e Worcester, diretor de música do King's College de Cambridge e do Royal College of Music.
Maestro e musicólogo, ele estará pela primeira vez no Brasil para reger, dia 4 de junho, no Teatro Municipal (a entrada é franca), "Variações Sobre um Tema Original Enigma", op. 36, de Edward Elgar (1857-1934) e, em estréia brasileira, a cantata "Belshazzar's Feast", de William Walton (1902-1983).
O evento, patrocinado pelo Conselho Britânico e pela Universidade Cidade de São Paulo, terá os corais Paulistano e Sinfônico do Estado e uma orquestra sinfônica com músicos paulistas.
Em entrevista à Folha, ele diz que era fácil trabalhar com Ralph Vaughan Williams (1872-1958), que dava mais liberdade ao intérprete, mas bem mais difícil lidar com Benjamin Britten (1913-1976), que não permitia maiores liberdades com a partitura.
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Folha - Como justificar o fato de a indústria fonográfica ter nas gravações de música coral um segmento secundário de mercado?
Sir David Willcocks - Para sobreviver, essa indústria produz prioritariamente aquilo que acredita que as pessoas comprarão. Mas quando se trata de gravações de orquestra com corais, as coisas não vão tão mal assim. Há uma larga aceitação em países como Inglaterra, Alemanha ou Suécia.
Folha - Não seria, especificamente nesses países, um reflexo da importância do repertório coral religioso?
Willcocks - Creio que isso ocorreu até o início deste século; a religião perdeu fôlego em seguida, sobretudo nos últimos 30 ou 40 anos. No entanto, em lugar de oratórios religiosos, começaram a ser compostas músicas corais seculares. Houve renovação do repertório.
Folha - Essa renovação ocorreu em instituições que o sr. dirigiu, como o King's College e o Royal College of Music?
Willcocks - O King's College, em Cambridge, permanece bastante associado à música religiosa, em razão da capela em que o culto cantado é celebrado diariamente, e também dos muitos discos que lá foram gravados. Quanto ao Royal College, ele possui uma tradição bem mais secular.
Folha - É correta a percepção de que os compositores do século 20 fizeram proporcionalmente menos músicas corais que compositores do século passado?
Willcocks - Entre os compositores europeus importantes há o polonês Krzysztof Penderecki, os ingleses Michael Tippett, Benjamin Britten ou William Walton. Como um todo, no entanto, creio que se compôs menos que no século 19.
Folha - O sr. chegou a trabalhar com todos eles, não é?
Willcocks - Certamente, bastante com Walton, mais ainda com Falph Vaughan Williams e tantos outros. Vaughan Williams, mesmo tendo escrito nove sinfonias, é também o autor de uma incrível quantidade de música coral.
Folha - Como era Britten como homem?
Willcocks - Eu gostava bastante dele, mesmo sabendo que muitos o consideravam uma pessoa de trato difícil. Ele preparava as partituras com muito cuidado. Sabia exatamente o que queria e era muito objetivo ao exigir que o regente respeitasse literalmente o que escreveu. Quando regia suas próprias composições, nunca se desviava daquilo que havia composto. Vaughan Williams já era diferente. Ele dizia com frequência: "Eu já fiz minha parte, a da composição. Que os intérpretes façam, agora, a leitura mais apropriada". Para ele, os compositores não eram necessariamente os melhores intérpretes de suas próprias músicas.
Folha - Em seu currículo, o sr. surge como "ex-" muitas coisas. O que o sr. faz hoje em dia, depois de se aposentar?
Willcocks - Faço aquilo que eu gosto, que é reger orquestras e corais. Não tenho mais as atribuições burocráticas de um diretor de conservatório, que examina contratos e precisa brigar com o governo para evitar cortes de verbas.
Folha - O sr. gosta mais de reger orquestra ou coral?
Willcocks - Normalmente, as orquestras são profissionais, e os corais, amadores. Eles possuem, então, diferentes velocidades de amadurecimento para chegarem a resultados que são, para mim, sempre muito agradáveis.

Concerto: Sir David Willcocks, com orquestra e os corais Paulistano e Sinfônico Quando: dia 4 de junho, às 21h
Onde: Teatro Municipal de São Paulo, praça Ramos de Azevedo, s/nº
Quanto: grátis

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