São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 1997
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'Sua música é remédio', diz Millo

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Aprile Millo é considerada uma artista excepcional, e por muitos motivos. Foi precoce em sua carreira, ao estrear aos 24 anos no Alla Scala, de Milão, sob a direção reputada de Riccardo Muti.
Foi também rápida ao ampliar o número de papéis interpretados. Possui ao menos uma dezena deles. Acaba de enveredar por Puccini e se prepara para cantar Mozart. É uma voz que soma à beleza do timbre uma espessura de dramaticidade na interpretação. Leia a seguir trechos de sua entrevista à Folha.
(JBN)
*
Folha - Entre as heroínas de Verdi, qual a sra. gosta mais de interpretar?
Aprile Millo - Ao cantar determinado papel é como se eu estivesse fazendo amor. Não seria correto pensar em outro personagem quando é com este -o de Amelia- que me sinto envolvida neste instante. Se estivesse cantando Aída, seria ela o meu papel preferido, porque nela estariam meu coração e minha alma.
Folha - Para Amelia, tanto quanto para a sra., a questão da fidelidade é então muito importante.
Millo - É o caso particular dela, a pobrezinha (risos).
Folha - Para a sra., que diferença há entre uma heroína de Verdi e outra de Puccini?
Millo - A música de Verdi é sempre uma espécie de remédio para a voz. Já Puccini exige que se atinja um volume maior, quase um grito para que a intérprete possa dar uma idéia de verdade. Fiz recentemente em Barcelona pela primeira vez uma "Tosca".
Folha - E como a sra. se saiu?
Millo - Foi um grande sucesso. E sabe por quê? Porque eu cantava, não gritava. É como se estivesse interpretando Puccini com a técnica que possuo para interpretar Verdi.
Folha - Por que a sra. nunca interpretou Mozart?
Millo - Estou justamente estudando meu primeiro papel de uma ópera dele. Fui aconselhada por Elizabeth Schwarzkopf a cantar Donna Anna. Talvez eu a cante em Berlim.
Folha - A sra. se refere obcecadamente à emoção, como se fosse algo tão importante quanto a técnica vocal. Por que?
Millo - Deixo-me levar com facilidade pela emoção. O que, em São Paulo, com tanta humidade, passa a ser um perigo para a minha voz. Se soltá-la como desejo, justamente para exprimir a emoção do papel, posso estragá-la facilmente.

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