São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 1997
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Invasor reconhece policial que atirou

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ajudante de pedreiro Eduardo Aparecido Gonçalves, 20, disse ontem que tem condições de reconhecer o soldado Luciano Félix do Nascimento, do Regimento de Cavalaria da PM, como autor do tiro que matou Crispim José da Silva na última terça-feira na Fazenda da Juta, em São Mateus.
Até as 18h30 o reconhecimento formal do policial não tinha acontecido porque o delegado titular da 8ª Delegacia Seccional de São Paulo, responsável pela apuração do caso, Antônio Mestre Júnior, interrompeu o procedimento.
Ele deixou a delegacia em companhia do promotor designado para acompanhar o caso, Francisco José Tadei Cebranelli, sem dizer o motivo da interrupção. Disse apenas que voltariam logo.
Em entrevista, Gonçalves disse que viu o soldado Nascimento descer do cavalo em que estava montado e dar um tiro que teria acertado a nuca de Silva. "O policial desceu do cavalo, deu o tiro, voltou a montar o animal e foi embora", disse Gonçalves.
Anteontem, Emilene Rodrigues Siqueira, 20, reconheceu formalmente o PM Nascimento como o autor do tiro que acertou Silva.
Assim como Emilene, Gonçalves contou que o PM atirou porque Silva foi socorrer a moça, que passava mal, desobedecendo a ordem do policial de se afastar dela.
"O PM sacou a arma, deu uma coronhada na cabeça de Emilene e depois atirou em Crispim", contou Gonçalves.
Ele falou, ao contrário de Emilene, que o PM Nascimento estava de capacete. "Por isso, pude reconhecê-lo".
Segundo Gonçalves, os PMs começaram a atirar. Ele disse que está com muito medo de represálias e que pretende se mudar para a chácara onde mora a sua irmã, na Grande São Paulo.
O PM Luciano Félix do Nascimento nega ter atirado contra Crispim José da Silva. Segundo o policial, ele estava montado no cavalo e tinha as duas mãos ocupadas: a esquerda segurava a rédea e a direita, a espada, impossibilitando-o de atirar.
"A acusação contra o PM é infundada. Assim como a moça apontou Nascimento como autor dos disparos, poderia ter acusado qualquer outro policial' , disse o advogado do PM, Carlos Humberto Barrente Lima, que ontem acompanhou o cliente no segundo reconhecimento, na 8ª Seccional.
"Quem pode determinar o verdadeiro autor do tiro é o exame de balística", disse o advogado.
Segundo o diretor técnico do Instituto de Criminalística (IC), Osvaldo Negrini Neto, os exames de balística devem demorar três meses.
O IC recebeu ontem as imagens da desocupação. Seu laudo deve ficar pronto na próxima semana.

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