São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 1997
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Whitaker volta com suas telas feias

PAULO VIEIRA
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA

Telas cheias de borrões, manchadas, marcadas por raspagens. Áreas pintadas e depois apagadas, sem muita cerimônia. Fala-se aqui de pintura? Quem sabe de pintura de paredes.
Fala-se da nova produção de Paulo Whitaker, 39, um dos mais importantes artistas contemporâneos brasileiros, desenhista e pintor por excelência.
Hoje, quando abre sua exposição em horário similar ao de Monet, o pintor apresenta novos "problemas", que ele sempre restringe ao espaço retangular e chapado de uma tela, e que invariavelmente "enfeiam" sua pintura.
São pinturas com poucos elementos, com o fundo monocromático ora branco ora preto -uma novidade em seu trabalho-, que tem por fim apresentar as questões principais do artista.
Numa tela branca, vai surgir um pequeno elemento disposto num canto; a esse elemento, se formado por uma massa de tinta, por exemplo, irá se contrapor outro, formado apenas por linhas. Se há um terceiro elemento na tela, ele pode ser fruto de uma raspagem.
É assim, testando algumas poucas ferramentas em campos mínimos, que Whitaker estrutura suas telas nada agradáveis.
Não é nem de longe uma pintura de contemplação. Interessa ao artista mostrar o percurso de sua mão sobre a tela.
Há novidades nesta produção. Além das telas com fundo preto, Whitaker se permitiu testar novas ferramentas. Há uma tela pintada com spray, uma recorrência de elementos geométricos e até um quadrado preto no centro de uma tela de fundo branco.
Quem conhece a produção pregressa de Whitaker sabe de sua dificuldade em incorporar tais novidades a seus quadros.
"Procuro a cada produção apresentar um problema novo. Não sei se consigo solucioná-los plenamente. O uso do spray é um problema novo, por exemplo. Talvez ele não continue nos meus próximos trabalhos, talvez um dia volte", disse o artista à Folha.
Desenhos
A mostra também traz uma sala inteiramente dedicada aos desenhos do artista. Neles, Whitaker exercita com força a colagem.
Desenhos produzidos em outras épocas foram recombinados pelo artista, criando novas soluções plásticas.
Curiosamente, nos desenhos aparecem todas as questões da pintura: o "silêncio", como ele diz, criado pelo contraste entre os pequenos elementos e as grandes áreas monocromáticas; seu vocabulário de ícones formais.
Whitaker enredou-se numa pintura que o faz, como diz, quebrar a cabeça. Procurou se afastar de qualquer referência para criar seu vocabulário.
Talvez esse seja o motivo para tanta contenção em sua fase inicial. Ele agora parece à vontade para falar mais. Felizmente, o idioma que usa é todo formado por fonemas que ele mesmo criou.

Exposição: Paulo Whitaker
Onde: Casa Triângulo (rua Bento Freitas, 33, região central, tel. 011/220-5910) Vernissage: hoje, 20h
Quando: de ter a dom, das 14h às 20h; até 21 de junho

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