São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 1997
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GASOLINA; VELHO; AMEAÇA; LANÇA-CHAMA

* GASOLINA - Mano, 17, um traficante do largo Santa Cecília, diz que já queimou uma pessoa que não "honrou" sua dívida. "O cara me devia R$ 40 e não pagou. Esperei a noite chegar, joguei gasolina no corpo dele e acendi o isqueiro. Foi um 'fogueirão' só", disse. Segundo Mano, as pessoas que apanham ou são queimadas não costumam voltar ao ponto. "Eles não são loucos. Sabem que foram queimados para não morrer. Mas, se um cara volta, não perdôo."

* VELHO - Um homem de 62 anos que morava sob o Minhocão, conhecido como Cazé, foi queimado nas costas e no braço por não ter pago uma dívida com os crackeiros da região, no início do ano. Segundo contam os moradores de rua, Cazé foi colocado em um buraco de terra e, imobilizado, recebeu socos e chutes na cabeça. Não satisfeitos, os traficantes jogaram álcool sobre a vítima e acenderam um fósforo. Cazé sobreviveu, mas nunca mais foi visto na região.

* AMEAÇA - Ex-funcionário de uma empresa de descupinização, José Alberto da Costa, 44, passou as últimas três noites sem dormir. Ele foi ameaçado de morte por traficantes de drogas. "Disseram que iam me queimar vivo e eu só tenho meus irmãos (amigos que moram na rua com Costa) para me proteger", afirmou. Ele diz que não vai se armar com álcool ou outro líquido inflamável para se defender. "Prefiro tentar conversar. Não gosto de violência."

* LANÇA-CHAMA - Xicão, o filho de um traficante, roubou o cobertor de Antônio Joaquim Paralinha, 69, um português de Lisboa que vive nas calçadas da rua dos Timbiras. Irritado, Paralinha conseguiu localizar o ladrão e recuperou seu cobertor. Na noite seguinte, foi cercado por três garotos armados com lança-chamas. "Foi tudo muito rápido. Só lembro de ter apanhado muito e da dor das queimaduras", disse. Paralinha quer voltar para sua terra natal, mas diz não ter dinheiro para a passagem.

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