São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 1997
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"Sitcoms" viram febre nos EUA

LOIC PRIGENT
DO "LIBÉRATION"

Desde setembro de 94, a emissora norte-americana NBC exibe toda quinta-feira a "must see TV", a tevê que devemos ver.
O canal programou a exibição ininterrupta de quatro "sitcoms" (comédias de costumes) de 26 minutos e um filme de 52 minutos.
Foi uma forma ousada de se desvincular de um mercado ameaçado pela TV paga. No lugar das habituais brigas de famílias com a torradeira nova, a NBC propôs séries jovens, urbanas e arriscadas.
A família "mórmon-mas-simpática" desapareceu para dar lugar aos celibatários sexualmente ativos. As brincadeiras sobre a educação das crianças foram substituídas por uniões entre lésbicas.
O canal controla a produção de perto, mas deixa que os autores criem suas histórias nos limites da moral. Larry David, criador-roteirista de "Seinfeld", não hesitou, num episódio de audiência recorde, em deixar morrer uma personagem depois de ela ter lambido a cola dos envelopes de seus convites de casamento.
A NBC apostou no risco. Os analistas, porém, haviam prevenido: o público familiar não seguiria esse tipo de programação.
O telespectador do Meio-Oeste dos EUA não entenderia as brincadeiras urbanas de "Seinfeld". Os anunciantes não iriam querer se associar a heróis debochados falando palavrões com naturalidade. Contra todas as expectativas, a NBC mantém há três anos a liderança de audiência. "Plantão Médico" possui entre 30 milhões e 35 milhões de adeptos. Logo em seguida, temos "Seinfeld", "The Naked Truth", "Friends" e "The Single Guy", abocanhando entre 24 e 30 milhões de telespectadores.
Os três primeiros lugares das pesquisas Nielsen (o equivalente ao instituto francês de pesquisa Médiamétrie) são ocupados pelos provocadores da NBC. A tal ponto que as séries viraram uma obsessão nacional.
Na Internet, já são inúmeros os sites dedicados a elas; os atores exploram ao máximo sua popularidade; e a discussão de sexta de manhã no trabalho é consagrada às intrigas e tiradas da véspera.
Segundo a revista "Entertainment Weekly", o público grudaria os olhos na NBC mesmo se ela transmitisse toda quinta o vídeo de segurança de seu estacionamento.
Para manter seus pontos de audiência, a NBC não hesita em mudar o horário ou suspender as "sitcoms" que não deram certo. A emissora não pára de procurar enquanto não acha uma boa fórmula: uma comédia afiada, mas popular.
"The Naked Truth", por exemplo, era um produto desenvolvido, sem sucesso, para a ABC. A NBC comprou a série novamente e revisou tudo: as personagens, os cenários, as situações. Cada episódio mereceu praticamente um estudo completo de mercado.
Na ABC, o programa ocupava o 31º lugar no ranking de audiência. Readaptado para a NBC, ele subiu para o terceiro lugar.

Tradução Lilian Escorel

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