São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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Indústria X serviços

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A perda de empregos no setor industrial é um processo que se observa não só no Brasil, mas em todos os países industrializados. O último relatório do FMI sobre as perspectivas da economia mundial traz informações úteis a respeito disso.
Nos países industrializados, a indústria emprega uma fração menor da mão-de-obra, bem como vem perdendo sua participação no PIB. Os empregos na indústria eram 28% do total de postos de trabalho em 1970 naqueles países e caíram para 18% em 1994.
A perda de empregos no setor industrial tem sido compensada por empregos no setor de serviços. Nos Estados Unidos, atualmente, menos de um trabalhador em seis está empregado na indústria, ao passo que 70% dos empregos estão em serviços.
Em termos de valor adicionado, o setor industrial responde por cerca de 20% do PIB dos países industrializados, comparados com 30% nos anos 60. Mas esses números são um pouco enganosos. Chega-se a eles medindo-se o PIB a preços correntes.
No entanto, quando se mede o PIB a preços constantes, a contribuição do setor industrial tem se mantido razoavelmente estável, em torno de 23% nos últimos 30 anos.
O contraste se deve ao fato de que os preços industriais vêm caindo quando comparados com os de serviços. A razão dessa queda é que os ganhos de produtividade são maiores na indústria do que nos serviços.
Por exemplo, o número de mesas que um garçom pode servir em um restaurante não é muito maior hoje do que era no começo do século. Já na indústria, a automação permite produzir mais bens em menos tempo. Uma televisão pode ser produzida hoje em um décimo do tempo necessário nos anos 50. Com isso o preço real do televisor caiu.
Em alguns setores de serviços, como telefonia, os ganhos de produtividade vêm sendo grandes no período recente e seus preços tendem a cair, mas em outras áreas, como serviços de saúde, educação ou turismo, não há ganhos comparáveis.
O grande problema desse processo é que muitos dos empregos no setor de serviços pagam salários menores do que ocorria na indústria, embora isso varie muito do tipo de serviço em questão.
Para um país como o Brasil, há diversas áreas de serviços que podem empregar mais gente, como profissionais de apoio na área da saúde, na educação etc. À medida que o país cresça, será inevitável gastar mais com esses serviços.
Infelizmente, o governo não tem colocado a valorização dos profissionais desses setores entre suas prioridades. Mas um dia isso precisará ser feito.

Álvaro A. Zini Jr., 44, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP.

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