São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997
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O desafio do sedutor

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Fernando Henrique Cardoso era e é o candidato favorito em 98. A bem da verdade, continuaria sendo mesmo se fosse obrigado a abrir mão do trono, e da máquina, durante a campanha. O problema é que essa posição já foi melhor.
O principal trunfo de FHC, o candidato, é a fragilidade dos adversários. Paulo Maluf diverte-se com a confusão geral que nivela todos por baixo, mas deve acabar mesmo é nos palanques de São Paulo. O PT vai de Lula ou de Tarso Genro, mas não para ganhar nas urnas, só no discurso.
Entre os dois extremos, Itamar Franco aproveita a ousadia de Pedro Simon e testa força. E há quem aposte que a TV Senado está para Roberto Requião como o rádio esteve para o azarão Collor em 89. Mas ninguém leva Itamar e Requião a sério -no páreo presidencial, frise-se, para evitar qualquer mal-entendido.
Assim, o desafio imediato de FHC não é combater os demais candidatos, mas estancar a própria sangria. Precisa recuperar o poder de iniciativa no Congresso e reacender a velha chama na opinião pública.
Quem frequenta o Congresso sabe que o clima mudou. E um político que acompanhou Roseana Sarney num périplo de 22 dias pelo interior do Maranhão registrou a frieza com que os cidadãos passaram a reagir ao nome do presidente. É só um flash. Há relatos semelhantes de outros Estados, inclusive de São Paulo.
Até Gustavo Loyola, do BC, destaca que a área econômica vai muito bem, obrigado, mas que a aprovação de pelo menos uma das reformas no Congresso neste semestre seria muito bem-vinda. "Para gerar expectativas."
O mais precioso aliado do governo é a gravidade. O instinto de deputados e senadores diz que mais vale um governo forte e atuante na mão do que um punhado de promessas fisiológicas voando. Se estiver bem na opinião pública e com perspectiva folgada de mais um mandato, os políticos em geral votam correndo com ele.
O impossível é ser forte convivendo com a compra de votos por aí. É o quase barato que sai caríssimo. Além de indecente, um péssimo negócio.

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