São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 1997
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A polêmica do câmbio livre

CELSO PINTO

O ex-presidente do Banco Central Ibrahim Eris está convencido de que a melhor saída, hoje, seria deixar o câmbio flutuar livremente. A idéia provoca calafrios em setores do mercado financeiro e é vista como um disfarce para uma desvalorização por setores do governo.
Eris, contudo, argumenta que essa seria uma saída mais cautelosa do que manter a política atual. A aposta do governo é que as contas externas vão melhorar num prazo razoável, e, até lá, será possível financiar com tranquilidade o buraco externo.
Ele não discorda da aposta. Acha que o Brasil, por sua dimensão, não deverá ter um coeficiente de importações muito superior a 10% do PIB e acredita que, de fato, as exportações vão reagir com as mudanças na economia. Só que ele suspeita que as contas externas poderão piorar ainda muito mais antes de melhorar.
Essa percepção de que a área externa está crescentemente vulnerável, a seu ver, destruiu a credibilidade da atual política cambial: no fundo, todos desconfiam de sua sustentabilidade. Tentar resolver as contas externas provocando uma recessão seria um equívoco. A elevação do desemprego também traria a percepção de que a política não seria sustentável por muito tempo.
Eris diz não saber se o câmbio está defasado e muito menos em quanto. Ele argumenta que o Brasil vive uma situação inédita que combina estabilidade com abertura comercial, o que torna os parâmetros históricos de pouca valia. Portanto, ele descarta a hipótese de uma máxi.
Acelerar as desvalorizações do câmbio seria uma "alternativa indecente". Ela exigiria manter juros ainda mais altos do que os atuais para manter a atratividade do capital externo. "Não há coisa pior para um país do que uma prolongada convivência com juros altos", observa.
A livre flutuação do câmbio, a rigor, só deveria vir depois de consolidada a situação fiscal e as reformas. Não há tempo. A crise de confiança na política cambial atual torna a livre flutuação a menos ruim das alternativas.
O que ele tem em mente é livre flutuação mesmo, não bandas largas de flutuação. Admite, contudo, que o governo possa usar bandas cada vez mais largas, num período de três a seis meses, como transição.
O mercado determinaria o nível sustentável do câmbio. O Banco Central interviria o menos possível e apenas em situações onde identificasse movimentos injustificáveis.
Seria necessário, também, baixar os juros até um nível em que os capitais mais voláteis e de curto prazo saíssem do país.
Mexer no câmbio, por si só, não garantiria o crescimento econômico, mas seria importante o governo ter como objetivo buscar um crescimento mínimo de 4%.
Alguns economistas temem que a livre flutuação poderia gerar uma crise que hoje não existe. O ex-diretor do Banco Central Francisco Pinto diz que essa proposta acabaria com a previsibilidade da política cambial, o que destruiria os mercados futuros de câmbio e a possibilidade de cobertura de risco dos endividados em dólares. O resultado seria uma forte saída de dólares e uma crise externa.
Eris argumenta que a previsibilidade da política cambial atual, de desvalorizações mensais em torno de 0,6%, só existe caso não esbarre numa crise. "A política cambial não depende da vontade das pessoas", diz. Na medida em que piora a percepção sobre o câmbio, aumenta a incerteza, independentemente do que faça ou queira fazer o BC.
Ele acha que a livre flutuação pode ou não levar a uma desvalorização. Se o fizer, é porque ela seria inevitável -então é melhor que ocorra quando o país ainda tem US$ 60 bilhões em reservas. Haveria custos, mas ele acha que a inflação não reacenderia, porque o país já consolidou a estabilização.
Além disso, ele argumenta que o regime atual de câmbio estimula muito mais a indexação do que a livre flutuação.
Eris aposta que, na medida em que o mercado perceber o câmbio livre como transparente e de equilíbrio, isso pode acabar atraindo mais capital e de melhor qualidade.
Telesp lucra mais
"Maiores e Melhores" da revista Exame coloca a Telesp como a mais lucrativa estatal (R$ 870 milhões) e a Dersa como a de maior prejuízo (R$ 774 milhões). Entre as 500 privadas, o maior prejuízo ficou com a Aços Villares (R$ 214 milhões), seguida pela Cosipa (R$ 150 milhões).

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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