São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Advogados lutaram por jurado decisivo

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA ENVIADA A PEDRO CANÁRIO (ES)

A defesa de José Rainha Jr. já começou o julgamento considerando perdidos pelo menos três votos dos jurados, e o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh disse que pensa em tentar transferir o próximo julgamento para a capital capixaba, Vitória.
Desde o início da semana, uma lista passada pelo MST nomeava três jurados como favoráveis à condenação.
Entre os outros quatro jurados -um empregado de empresa de transportes, um comerciante, uma contadora e uma socióloga-, três votos eram tidos como favoráveis a Rainha. O voto restante teria de ser "conquistado".
Esse último voto foi ganho pela acusação. Na segunda votação, um jurado que votara a favor de Rainha mudou de idéia.
Pelo menos dois jurados ouvidos pela Folha após o julgamento afirmaram ter havido um componente político na condenação: a socióloga e historiadora Rosângela Agnoleto Freitas, 31, e o comerciante Hélio Borsoi, 58.
"Para o país, fica um julgamento político contra o MST. Mas, aqui na cidade, acho que se levou em consideração o crime", afirmou Rosângela, cujo voto estava sendo contabilizado pelo MST como favorável a Rainha.
Novata em tribunais de júri, Rosângela é esposa do vice-prefeito, Hélio de Freitas (PPB), pecuarista. Ela disse não acreditar que seu voto pudesse ser influenciado pelas atividades econômicas e políticas do marido.
"Sei que muitas pessoas não acreditam na minha neutralidade. Mas ser pecuarista não é crime, e eu não sou contra o MST", afirmou Rosângela.
O comerciante Hélio Borsoi, veterano nos julgamentos em Pedro Canário, disse que, num julgamento como o de Rainha, o componente político é "inevitável".
Borsoi afirmou que, durante a sessão, por várias vezes se sentiu cansado e ficou indeciso sobre como votar, até conseguir chegar a uma conclusão final.
O comerciante William Pimentel Colodetti, 32, tido pelo MST como um voto contrário, disse não saber o motivo dessa avaliação.
"Cada um pensa o que quer. Não conhecia as vítimas e só conhecia Zé Rainha de nome. O que eu posso dizer é que fiquei surpreso com o resultado", afirmou o comerciante, que já participou de outro júri popular.
A batalha pela constituição do corpo de jurados começou na segunda-feira, quando os advogados de Rainha tentaram adiar o julgamento alegando a suspeição de sete jurados.
No início da sessão, os advogados do líder sem-terra recusaram três jurados e impugnaram mais dois. Três jurados foram recusados pela promotoria.
A alegação principal da defesa de Rainha era que muitos jurados tinham ligações de amizade ou parentesco com as vítimas, ou que eram proprietários rurais interessados na condenação do réu.
Pedro Canário tem aproximadamente 21 mil habitantes, distribuídos principalmente pelos distritos rurais. A agropecuária é a principal atividade na região.
(FE)

Texto Anterior: Juiz diz que foi transparente
Próximo Texto: Onde fica
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.