São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 1997
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Líbero é avanço tático para a seleção brasileira

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, ouço, aqui e ali, algumas observações confusas sobre a adoção do "líbero" pelo velho Lobo do fut Zagallo.
Há quem diga que ele deixou o time mais defensivo ainda, aumentando o número de zagueiros de área.
É preciso desfazer essa confusão. Ao jogar com um zagueiro de proteção entre os tradicionais central e quarto-zagueiro, o time libera os laterais para atuarem mais à frente, na região da linha do meio-campo.
Esse adiantamento dos laterais -que se tornam verdadeiros alas- não significa que eles deixam de ter funções de marcação.
Eles simplesmente deixam de esperar o jogador adversário -com o chamado corredor à sua frente- chegar até à proximidade da linha de defesa para iniciar a marcação.
Perto do meio-campo, ela torna-se uma marcação mais ativa, mais dinâmica, além de diminuir o espaço na zona de criação do adversário.
Portanto, na matemática pura, há o recuo de um meio-campista e o avanço de dois laterais-meio-campistas-atacantes; vê-se portanto que o esquema não é, em si, mais defensivista.
Na verdade, ele é mais eficiente porque permite uma utilização mais racional e mais adequada dos jogadores.
(Como vantagem agregada, ele permite fazer mais facilmente a linha de impedimento, na medida que são três zagueiros atuando próximos. Não é à toa que o ataque brasileiro foi pilhado tantas vezes em impedimento nos primeiros jogos do tour europeu.)
No sistema de quatro zagueiros tradicionais, sempre há defensor ocioso em um ponto e sempre falta defensor para cobertura em outro.
Quer dizer que o sistema de três zagueiros, com um atuando como anjo-da-guarda dos demais, é a panacéia universal para os times de futebol?
Não necessariamente. Ele funciona muito bem contra equipes que jogam apenas com dois atacantes.
Contra três atacantes, ele é obrigado a sofrer modificações. Essa é uma das razões do sucesso do time do Ajax que tantos títulos acumulou nos anos 90: jogando com três atacantes, ele obrigava a mudanças no sistema de marcação dos oponentes.
E o que é preciso para ter um sistema de três zagueiros eficiente?
A marcação homem-a-homem e o biótipo dos zagueiros.
Como eles passarão a acompanhar, o tempo todo, atacantes rápidos e velozes, os zagueiros, nesse sistema, também precisam desses atributos: velocidade, agilidade, concentração (Baresi! Baresi!), vigília permanente e preparo físico (na marcação por zona, o zagueiro pode correr menos, pode ser mais "preguiçoso"). E um líbero experiente.
Além disso, o sistema de três zagueiros exige um maior conhecimento das características dos adversários, pois é preciso escolher o marcador certo para a especificidade de cada adversário (ao contrário de Parreira, Zagallo estuda pouco os adversários).
Como tudo em futebol, não adianta apenas ser vantajoso na teoria. Sem muito treinamento, não há esquema de jogo que dê certo por decreto.
E Dunga achou o lugar certo.

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