São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 1997
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Anistia Internacional receberá relatório

DA SUCURSAL DO RIO

A sede da Anistia Internacional, em Londres, receberá, possivelmente na próxima semana, um relatório detalhado sobre a absolvição de Nélson dos Santos Cunha.
O relatório começou a ser preparado ontem à tarde pela ONG (organização não-governamental) Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, com sede no Rio.
Coordenadora da ONG, a advogada Cristina Leonardo atuou no julgamento como assistente de acusação, representando os menores que sobreviveram ao ataque do grupo de extermínio.
"Essa absolvição representa um disparate jurídico, uma aberração. O júri demonstrou ser muito conservador. As crianças foram vítimas duas vezes: dos exterminadores e do júri. Prevaleceu a cultura do extermínio", afirmou ela.
No relatório, Cristina Leonardo deverá se queixar até da atuação do Ministério Público, que, ao formular as acusações, não considerou os reconhecimentos feitos por sobreviventes, entre eles Wagner dos Santos.
Os promotores que trabalharam no caso desde o início, José Piñeiro Filho e Maurício Assayag, foram substituídos há cerca de um mês pela promotora Glória Percinoto.
Piñeiro Filho disse que os reconhecimentos feitos por Santos tinham equívocos. O sobrevivente reconheceu Marcelo Ferreira Cortes, absolvido em 96, e Carlos Jorge Liaffa, que não foi processado.
Para Piñeiro Filho, o resultado do julgamento foi surpreendente. "Não esperava essa decisão. O réu havia sido condenado por seis a um. A absolvição contraria as provas. Me sinto até envergonhado."
Derrotada em sua estréia no caso, a promotora Glória Percinoto também reclamou da decisão.
"Se ele (Cunha) não quisesse cometer os crimes, não estaria nos locais onde os meninos foram mortos, acompanhado dos outros assassinos", afirmou a promotora.
Repercussão
Representantes de entidades de direitos humanos ouvidos pela Folha acreditam que o PM Nélson Cunha tenha responsabilidade na chacina da Candelária por ter presenciado o crime. Para os entrevistados, o testemunho do fato já seria bastante para uma condenação.
"O júri representa a sociedade e carrega seus preconceitos. Há pessoas que não acham preocupante o fato de um policial matar um menino de rua", diz James Cavallaro, da Human Rights Watch.
Para o deputado Renato Simões (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo, a decisão prejudica a imagem da Justiça.

A coluna de Barbara Gancia não é publicada excepcionalmente hoje.

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