São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 1997
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Mais uma vez o desemprego

JOSÉ SARNEY

O desemprego sempre existiu como um problema conjuntural, na razão dos problemas de crescimento ou recessão que viviam as sociedades. Hoje, o problema é totalmente diferente.
O desemprego é estrutural, ele é uma consequência inevitável da robotização, compactação de produtos, descobertas de novos materiais, informatização, novos sistemas de gestão, desenvolvimento tecnológico e racionalização.
A primeira e heróica decisão que se toma para competir é a demissão. O trabalho, que era um dos direitos do homem, passa a ser um privilégio.
A velha e antiga discussão, quase filosófica, que surgiu no início do processo de industrialização, sobre o confronto entre a máquina e o homem tornou-se irrelevante. Agora, o que existe é um processo produtivo que expulsa o homem dos postos de trabalho, como desnecessário ou apenas permitido a uns poucos iluminados.
A predominância dos aspectos econômicos joga o social para um terreno abandonado. O homem não pesa nessa concepção. As reações começam a aparecer. Embora todos concordem que a economia de mercado veio para ficar e a democracia é o sistema político que governará a humanidade, elas não podem existir contra o homem.
Assim, paradoxalmente, uma ideologia dogmática, o comunismo, está sendo substituída por outro dogmatismo, outra ideologia sacralizada, o capitalismo selvagem, cuja face mais visível é o desemprego.
Acabam-se os programas sociais, os mecanismos da previdência são abandonados por falta de rentabilidade e o desejável é a implantação de seguros, como negócio rentável, e a supressão das garantias de trabalho para facilitar demissões.
Esse tema foi o tema da campanha de Jospin nas últimas eleições francesas. A cúpula de Amsterdã aceitou a tese francesa de convocar uma convenção para discutir o assunto, como preliminar da implantação do euro, que não pode ser apenas um problema econômico sem levar em consideração os problemas sociais, e o principal deles: o desemprego.
Na Europa rica as coisas estão assim. O que não dizer do Brasil? Países com uma base industrial organizada, como o nosso e a Índia, de grande população, estamos pagando um preço muito alto pelo ajustamento. E esse preço é pago pela área social e pela indústria nacional. Enquanto isso, o mercado financeiro é um carnaval e os especuladores da Bolsa de todos os lugares do mundo vêm aqui buscar os juros altos.
Só em São Paulo foram extintos mais de 1 milhão de empregos num país que precisa criar anualmente 2 milhões para atender aos jovens que entram no mercado de trabalho. E o crescimento econômico (PIB), este ano, na melhor hipótese, será de 3%!
Enquanto isso o déficit externo dobra e passa de 4% do PIB e a dívida externa do país chega a R$ 177 bilhões! O serviço dessa dívida passa de muito a economia provocada por todas as demissões previstas na reforma administrativa.
Então não há como colocar nas demissões todas as cartas do déficit público. A verdade é uma só: temos que, a todo custo, criar empregos e priorizar a obra social.

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