São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 1997
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Proálcool faz governo se contradizer em NY

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

As declarações da secretária-executiva do Ministério do Meio Ambiente sobre o lançamento de uma nova versão do Proálcool, anteontem em Nova York, causaram mal-estar na cúpula do governo.
A secretária, Aspásia Camargo, havia dito que novos carros oficiais seriam movidos a álcool, que táxis a álcool teriam incentivo e que consórcios de carros a álcool teriam prazo maior.
"Se ela tem essas informações, eu não tenho", afirmou o ministro Gustavo Krause, responsável pela pasta do Meio Ambiente.
"Em nenhum momento pensamos em interferir no consórcio de carros. O que podemos fazer é recomendar ou até determinar que os carros do governo sejam a álcool, mas não queremos mexer nos mecanismos de mercado."
Krause comentou que, antes de viabilizar qualquer projeto, é preciso criar mecanismos que o viabilizem. "Em tese, é claro que nossa opção é pela energia renovável, mas tudo tem um preço. Precisamos saber se dá para pagá-lo."
O presidente Fernando Henrique Cardoso também negou as declarações de Aspásia. "Não é o Proálcool, nem eu falei em realizar o projeto de carro a álcool. Apenas vamos incentivar a frota verde. O que o governo está sugerindo é que, preferencialmente, os carros oficiais sejam, é claro, a álcool."
"Posso dizer que há algum tempo o governo está se mexendo. Não fosse a proporção de 22% de álcool adicionado no combustível da frota brasileira e a situação ambiental nas grandes cidades seria ainda mais grave."
Tanto o presidente quanto o ministro negam que pretendam dar novos subsídios aos usineiros. "Não vai haver subsídio, nada de subsídio", repetia Fernando Henrique. "Chega de usar subsídio para cá e para lá", afirmava Krause.
Mesmo negando os subsídios, o presidente fez questão de defender os usineiros. "Alguns estão endividados, mas não podemos generalizar. A produção de cana no Estado de São Paulo é uma das melhores do mundo."
Outra declaração de Aspásia que causou polêmica foi sobre a criação de um fundo ambiental para financiar a reconversão do sistema energético brasileiro, que seria discutido pelo Congresso no segundo semestre.
O ministro Krause também fez questão de negar a informação. "Ainda é uma conjectura, é muito cedo para falar sobre isto."
Compromisso de pé
Em Brasília, o presidente da República interino, Marco Maciel, defendeu o Proálcool. Segundo ele, com o programa, o governo terá condições de incentivar a geração de empregos, as exportações e a preservação do meio ambiente.
Em nota oficial, o Ministério da Fazenda, divulgou que o "compromisso do Executivo com o Proálcool nunca esmoreceu".
Apesar das declarações em apoio ao programa, nenhuma autoridade disse quando serão -e se serão- postas em prática as propostas em estudos para a reativação do Proálcool.
Uma das propostas em estudo pelo governo, que serviria também para estimular a redução da poluição, é a adoção do imposto verde.
A Comissão Interministerial do Álcool, formada por representantes de ministério ligados ao setor, propôs a cobrança de um imposto dos donos de carros poluidores.
A proposta é esclarecer aos consumidores que quem polui deve pagar mais caro.
Atualmente, a gasolina é mais cara que o álcool porque parte do valor que é pago na bomba do posto vai para a conta FUP (Fundo de Uniformização de Preço).

Colaborou a Sucursal de Brasília

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