São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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A conta política da economia

CELSO PINTO

O partido do governo no México, o PRI, há 70 anos no poder, deve perder o controle da capital nas eleições de hoje e sofrer um baque em sua maioria. Na Argentina, a impopularidade do governo gera o risco de um revés nas eleições legislativas de outubro.
No entanto, os dois países passaram por uma recuperação econômica impressionante, depois da crise de 95, detonada pelo colapso mexicano em dezembro de 94. O que deu errado?
O Ministério da Fazenda designou, desde o início deste ano, o economista Arno Meyer, secretário-adjunto da Secretaria de Assuntos Internacionais, para acompanhar de perto os dois países. Meyer produziu dois interessantes trabalhos.
Os dois países conseguiram uma recuperação "fenomenal" na área externa e que parece sustentável. O principal problema do México é que seu mercado interno ainda não se recuperou da forte depressão que sofreu. O calcanhar de Aquiles no caso argentino é a altíssima taxa de desemprego.
Quando o México quebrou e quase levou com ele a Argentina, os dois países se ajustaram por caminhos opostos. Em 95, a moeda mexicana desvalorizou-se em média 32%, o PIB despencou 6,2%, a inflação saltou para 52%, e os salários reais caíram 12,4%. A Argentina defendeu heroicamente seu câmbio fixo, passou por uma deflação (queda de preços) e uma recessão (queda de 4,6% do PIB em 95).
O ajuste externo do México foi impressionante. As exportações deram um salto de 85% entre 93 e 96, chegando a US$ 96 bilhões no ano passado, o dobro das exportações brasileiras. O petróleo, hoje, representa apenas 12% das exportações, enquanto as manufaturas respondem por 84%. E não se trata apenas de exportações das "maquiladoras" (empresas que apenas montam os produtos no país), como no passado: sua participação caiu para 38% das exportações totais e 46% das de manufaturas.
O acordo de livre comércio com os Estados Unidos (Nafta), em vigor desde 94, ajudou muito. No ano passado, 84% das exportações mexicanas foram para os Estados Unidos. O aumento de 58% nas exportações em 95 e 96 foi ajudado, também, pela forte desvalorização cambial, uma queda de 24,6% nos salários reais e um salto de 14% na produtividade.
Além disso, a forte queda do PIB em 95 foi puxada, principalmente, por uma redução de 8,4% no consumo privado e 9,5% no consumo público. A recuperação no ano passado, de 2,3% no consumo privado e 3,7% no público, não compensou a queda anterior. A depressão do mercado interno e dos salários criou enorme insatisfação política, mas ajudou a retomada do crescimento puxado pelas exportações e pelos investimentos (mais 27% em 96).
A depressão dos salários evitou que o desemprego subisse muito. A taxa passou de 3,7% em 94 para 6,2% em 95, mas já voltou, em maio deste ano, a 3,9%. A economia cresceu 5,1% em 96 e deve crescer algo parecido neste ano, com um déficit em conta corrente de apenas 0,6% do PIB em 96 (comparado a 7% em 94).
Meyer, ao contrário de alguns analistas, acha que a recuperação externa do México é consistente, embora a desvalorização real do peso, hoje, esteja reduzida a 17%. O país recompôs o financiamento externo e o investimento. Trata-se, contudo, de um ajuste incompleto, porque falta a recuperação do mercado interno.
Ele acha que, comparativamente, o custo na Argentina foi menor. O PIB caiu 4,6% em 95, mas cresceu 4,3% em 96 e pode crescer mais de 6% neste ano. As exportações cresceram 52% entre 93 e 96. O déficit em conta corrente caiu de 3,6% do PIB em 94 para 1,1% em 96.
O mercado interno sofreu menos: o consumo caiu 6,1% em 95 e cresceu 3,8% em 96. A retomada vem sendo liderada pelas exportações e pelos investimentos, o que torna o crescimento sustentável. Falta consolidar a área fiscal. O maior drama, contudo, é o desemprego, ainda acima de 17%, puxado pela redução no custo dos investimentos em tecnologia, maior competição e um ajuste em relação aos anos 80, quando o produto caiu e o emprego subiu.
A conclusão de Meyer é otimista, pelo lado econômico. Existe, contudo, uma conta política complicada a pagar nos dois países.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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