São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997 |
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Mundo terá epidemia de doenças crônicas
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O principal resultado disso, acrescenta a OMS, será um aumento brutal da incapacitação e sofrimento humanos. Meio século atrás, a maioria das pessoas morria antes dos 50 anos. Em 1996, a expectativa de vida mundial chegou a 65 anos. Baseado nisso, o relatório da OMS defende que a preocupação em aumentar o número de anos vividos seja estendida à qualidade dessa sobrevida. "As pessoas devem estar preocupadas com a sua expectativa de saúde", diz a OMS. O relatório define essa nova expressão como expectativa de vida com boa saúde: a quantidade de anos que uma pessoa pode viver em condições saudáveis. O aumento da longevidade não sairá de graça para a humanidade, afirma a OMS. "Uma parte do preço a ser pago será a ocorrência de doenças crônicas." Elas matam 24 milhões de pessoas/ano -quase metade das mortes no mundo. As principais causas são doenças circulatórias, câncer e doenças pulmonares crônicas. O relatório acrescenta que a expectativa de vida entre os países em desenvolvimento também está em crescimento e, por consequência, mais pessoas estão suscetíveis a doenças comuns entre idosos. Em outras palavras, se os habitantes desses países sobreviverem à mortalidade infantil e às doenças infecto-contagiosas na juventude, vão estar expostos, na maturidade, às doenças crônicas. É que o se chama transição epidemiológica. A mudança nos padrões de saúde em que os países pobres "herdam" problemas típicos dos ricos: não só as doenças, mas os efeitos do consumo do fumo, álcool e drogas, além dos acidentes, suicídios e violência. O relatório ressalta que, cada vez mais, a saúde vem sendo influenciada por circunstâncias econômicas e sociais sobre as quais os indivíduos têm pouco controle. Como resultado, muitos países estão experimentando um distanciamento crescente entre as condições de saúde de ricos e pobres. O Brasil é um deles. Segundo o médico Marcos Drumond, do Pro-Aim (programa de informações de mortalidade da prefeitura paulistana), não é mais possível estabelecer uma polaridade entre doenças de "ricos" e doenças de "pobres". "O risco de morte nas áreas mais pobres da cidade de São Paulo é maior nos dois grupos de doenças, assim como nas mortes violentas, em especial por assassinatos." Para ele, "deve-se considerar problemas que vão do ambiente urbano insalubre até a miséria, passando pelo acesso à assistência de saúde de qualidade e padrões de consumo e comportamento diferenciados entre grupos sociais." Toda essa mudança no perfil demográfico terá impacto sobre o sistema de saúde brasileiro, como ressaltam Kaizô Beltrão, do IBGE, e Ana Amélia Camarano, do Ipea: "Doenças evitáveis por imunização e/ou melhoria das condições sanitárias, que atingem mais as crianças com menos de 5 anos e as mulheres jovens, vêm perdendo importância relativa para as doenças típicas de países industrializados, que atingem mais a população adulta (câncer e infarto)." Para o demógrafo Celso Simões, do IBGE, as consequências disso serão desafios acumulados: "Ainda há muita mortalidade infantil e por doenças infecto-contagiosas, e ainda haverá despesas com tratamentos mais caros e sofisticados para as doenças não-contagiosas." Texto Anterior: Itamaraty apura o caso Próximo Texto: Sociedade é responsável por saúde do idoso Índice |
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