São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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Investidor individual é expulso do mercado

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

A globalização tornou as Bolsas de Valores brasileiras ainda mais imprevisíveis. Com o dinheiro voando pelo mundo na velocidade das fibras óticas, em segundos fatos ocorridos nos EUA podem derrubar ações no Brasil.
Para entrar no jogo, uma pequena corretora paulistana precisa pagar pela assinatura de quatro agências internacionais de notícias, duas nacionais, Internet, serviços com as cotações do pregão on-line e dezenas de relatórios de bancos.
São alguns milhares de reais por mês gastos para obter a arma mais importante na guerra das Bolsas: informação. Quem sabe antes, ganha. Quem sabe na hora, empata. Quem sabe depois, mesmo que poucos minutos depois, perde.
Essa é a razão pela qual estão desaparecendo os pequenos e médios investidores individuais. É impossível para uma pessoa, sozinha, acompanhar com a agilidade necessária todas as variáveis que influenciam as Bolsas.
Os grandes especuladores, que há menos de 10 anos dominavam os mercados brasileiros, também perderam poder. Quando a Bolsa negociava R$ 30 milhões por dia, um investidor milionário podia ditar os rumos do mercado.
Hoje as coisas são mais complicadas. O volume de negócios na Bolsa de Valores de São Paulo, por exemplo, disparou para R$ 1,4 bilhão por dia. Há investidores estrangeiros e grandes fundos que abrigam a classe média.
Esses dois novos personagens mudaram o cenário do mercado brasileiro.
Pode ocorrer de os investidores nacionais estarem "comprados" (compraram ações por apostar na sua alta), mas as cotações caírem porque os estrangeiros, por razões que nada têm a ver com o Brasil, vendem seus papéis.
No caso da classe média, o efeito é outro. Assustados com as notícias de queda nas Bolsas desde sexta-feira retrasada, investidores começaram a sacar cotas de fundos de ações. Mas só na quarta-feira.
Para quem, mesmo sabendo dos riscos, resolve investir em ações, resta a opção dos fundos: dinheiro de muitas pessoas vão para uma mesma "conta" administrada por uma instituição financeira.
Não por acaso, os fundos tornaram-se os maiores investidores mundiais. Os riscos são mais limitados e o investidor não precisa saber, por exemplo, que é sempre bom "comprar no boato e vender no fato", como mostrou a Bolsa de Nova York na sexta-feira.
Explica-se: durante toda a semana o índice da principal Bolsa do mundo subiu diante da expectativa do anúncio do balancete da Microsoft. Chegou a bater recordes sucessivos.
Anunciado o lucro do trimestre -mais de R$ 1 bilhão-, as ações despencaram. Não porque tenha sido menor do que a expectativa, mas devido ao fato de que quem sabia do boato já tinha comprado. Com o fato, era hora de vender.

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