São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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Fundos de ações deram fôlego às Bolsas

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Todo o mercado esperava a queda da Bolsa. O que deixou os profissionais atordoados, mesmo os mais experientes, foi a violência das baixas de preços num período tão curto.
A expectativa de uma "realização de lucros" mais forte se fortaleceu com a própria alta da Bolsa, explica Eduardo Santalucia, do Banco Sudameris.
O Índice Bovespa -principal termômetro do mercado e da ação mais negociada, a Telebrás-, que já vinha de uma valorização de 63,76% no ano passado, ganhou mais 78,5% só no primeiro semestre de 97. Manteve o ritmo em julho, avançando até 93,4% no dia 8.
A "realização de lucros" começou na sexta-feira retrasada, não tão intensa, indicando que poderia ser um movimento normal de investidores que vendem para lucrar com a alta anterior.
No final de semana, com notícias de que a crise cambial de países da Ásia se alastrava a partir da Tailândia, o nervosismo cresceu e a baixa se repetiu na segunda-feira.
Na terça, com informações desencontradas sobre a política cambial, a Bolsa perdeu o eixo.
"Como o mercado inteiro estava comprado, sem notícia boa, e os estrangeiros estão retraídos, virou efeito-dominó", diz Heitor Hortêncio Jr., da corretora Síntese.
Pretexto
Para o economista-chefe do Deutsche Morgan Greenfell no Brasil, Dalton Gardimam, a crise na Ásia foi a desculpa que faltava para a "realização de lucros".
Se a crise asiática estivesse influenciando de perto o Brasil, o primeiro efeito seria sobre o câmbio -que se manteve relativamente calmo-, e não sobre a Bolsa, argumenta Gardimam.
Para ele, a baixa da Bolsa, embora forte, foi a contrapartida à alta do primeiro semestre.
Depois da aprovação da emenda da reeleição, e com exceção da privatização da Vale, não houve motivos técnicos para alta tão forte, acrescenta o economista.
Nos últimos meses, enquanto os investidores estrangeiros já se mostravam arredios, vendendo posições para "realizar lucro" de até 80%, ou apenas se mantendo neutros, pequenos e médios investidores nacionais, insatisfeitos com juros de 1,2% ao mês, partiam com tudo para os fundos de ações.
A captação líquida desses fundos, principalmente os de carteira livre, foi sempre positiva no primeiro semestre (ver gráfico). Em maio, entre depósitos e saques, entraram mais R$ 3,2 bilhões, segundo números do Banco Central. Em junho, quase R$ 3 bilhões.
Neste mês, pelo menos até a última segunda-feira, a captação ainda era positiva em R$ 1,28 bilhão, com mais R$ 148 milhões só naquele dia, mostram dados do BC.
Sem o combustível dos fundos, a Bolsa não teria subido tanto no primeiro semestre, avalia-se no mercado.
Dados mais recentes da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), até o dia 16, embora não tão completos quanto os do BC, mostram saques nos fundos, porém bem menos intensos que os previstos.
Se foi mesmo assim, desmente-se a tese -entre as várias que surgiram- de que uma enxurrada de resgates nos fundos teria sido decisiva na queda da Bolsa.
A realidade é que o mercado ainda busca um eixo e deve se manter nervoso nos próximos dias.
Jarbas Gambosi, diretor executivo do AGF Braseg, pressente que o novo piso de preços no curto prazo está próximo, mas espera razoável volatilidade pelo menos até agosto.

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