São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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Prisão longe de casa é ilegal

CYNARA MENEZES
DA ENVIADA ESPECIAL

A cada três meses, nos últimos oito anos, Jone Artola, 44, percorre longo trajeto de ônibus desde Bilbao, extremo norte da Espanha, até Cádiz, no sul, para visitar Joseba Artola, seu irmão condenado a 300 anos de prisão por participar de ações terroristas do ETA.
Legalmente, e isso reconhecem até mesmo os adversários do ETA e do Herri Batasuna (HB), seu braço político, Joseba não deveria estar ali. A lei espanhola prevê que ele e outros presos do ETA deveriam cumprir suas penas "o mais próximo possível de seus lugares naturais".
Joseba entrou na prisão aos 24 anos de idade por posse de armas e por haver participado de vários atentados. Está com 35 anos agora.
Casou na prisão com a primeira namorada e pode ter visitas íntimas uma vez por mês. Com os familiares, só conversa por meio de um vidro. Vai ao pátio duas vezes por dia e, segundo a irmã, está em boa forma física.
Jone milita no HB e não esconde a simpatia pelo ETA. Sobre o assassinato de Miguel Angel Blanco, diz: "Foi uma ação a mais".
Toda sexta-feira, quando as famílias se reúnem para visitar em comboios os parentes presos, ela está lá, mesmo que não seja seu dia de visita. Da última vez, como quase sempre, ela conduzia o carro de som que vai à frente da pequena manifestação que organizam os familiares dos presos do ETA. Eles gritam palavras de ordem: "euskal presoguztiak" (presos em casa, em basco).
Jone crê que, quando o irmão deixar a prisão, provavelmente nos próximos dez anos, diz, o problema basco já terá sido resolvido. "Ser de esquerda de verdade põe outros valores na sua cabeça. Eu respeito o povo espanhol, mas é preciso enfrentar o opressor espanhol", afirma. "A verdade é que cada vez que vamos visitá-lo, temos de ir a outro país. Eu não sou espanhola. Sou basca."
(CM)

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