São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Homem manda missão a Marte para entender origem da vida na Terra

DA REDAÇÃO

Por que Marte? Por que gastar alguns milhões de dólares, anos de estudo para o desenvolvimento de tecnologias para, no fim, enviar um robô de nome Sojourner e uma sonda batizada Pathfinder a um planeta aparentemente estéril?
Matthew Golombek, cientista do projeto Mars Pathfinder, tem uma resposta.
Marte é o único planeta onde poderíamos endereçar a pergunta "a vida é um acidente cósmico ou ela poderia ter se desenvolvido em qualquer lugar que tivesse os ingredientes necessários?".
Muitos acreditam que, se os ingredientes certos forem expostos às mesmas condições, resultarão em alguma forma primitiva de molécula com capacidade de se autoduplicar. Em outras palavras, vida. Tudo o que pesquisadores procuram é encontrar, em algum lugar fora da Terra, os ingredientes que deram certo em nosso planeta e que são a base da vida: basicamente, água e carbono.
Mas hoje é praticamente impossível descobrir se eles existem -ou se a vida existe- fora do Sistema Solar. As distâncias a percorrer seriam tão grandes que levaria algumas centenas de anos até que o homem tivesse algum sinal positivo -ou negativo.
Marte é vizinho da Terra. Apenas sete meses de viagem, quando Terra e Marte estão em sua proximidade máxima, separam os dois planetas.
Embora hoje seja um deserto gelado, algumas evidências mostram que o planeta vermelho teve, em algum momento de sua história, condições semelhantes às da Terra em seus primeiros anos de vida. Isto é, água, o ingrediente que se considera condição necessária para a existência de vida.
Canais que correm em uma mesma direção, marcas na superfície que podem ter sido deixadas por um meteorito caindo em um local lodoso e pedras arredondadas (parecidas com as originadas pela erosão causada por um curso fluvial) são hoje as mais fortes evidências de que o planeta já teve água um dia.
Isso implica ter havido um equilíbrio entre a água líquida e a atmosfera, o mesmo que possibilita até hoje que haja água em estado líquido na Terra.
Cientistas dizem que essas pistas ocorrem em locais com idade próxima de 4 bilhões de anos, tempo em que, na Terra, podem ser encontradas as primeiras evidências de seres vivos.
Se isso foi verdade, os estudos do planeta poderão mostrar onde ela se desenvolveu.
Explorar Marte também ajudará a entender quais os fatores envolvidos em mudanças naturais no clima dos planetas.
Na Terra, tentamos entender quais fatores estão levando a um aumento da temperatura em todo o globo e se o homem tem participação nesse processo ou não.
Em Marte, o homem procura saber por que o planeta, que, se teve água líquida, foi muito mais quente e úmido no passado, se transformou em um lugar árido.
O depósito em camadas observado nas capas polares do planeta -constituída basicamente por "gelo seco" (dióxido de carbono congelado)- sugere que deve ter havido flutuações climáticas em períodos de tempo curtos.
São nessas capas de gelo que cientistas se debruçarão nas próximas missões. Acredita-se que, em meio às camadas, haja água congelada e, por que não, resquícios de vida.
Assim, estudar Marte ajudará não só a entender como aconteceram fenômenos geológico-atmosféricos que levaram o planeta a hoje parecer um grande deserto. Quem sabe, pode fazer também com que evitemos que isso aconteça na Terra.

Texto Anterior: Perfume 'com cheiro de mulher' surgiu em 1921
Próximo Texto: Rochas ajudam a entender melhor a Terra
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.