São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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PT SEM RUMO

O presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, José Dirceu, já admite a derrota de sua agremiação nas eleições presidenciais de 1998. A legenda já cogita até mesmo a hipótese de concorrer com um anticandidato, a exemplo do que o então MDB fez com Ulysses Guimarães em 1974.
A crise do PT, contudo, tem raízes mais profundas do que as do lançamento de uma anticandidatura contra o regime militar. O PT, simbolizado por Lula, o seu mais importante líder, chegou em segundo lugar na corrida presidencial em dois pleitos consecutivos. Disputou com boas chances vários governos estaduais (ganhou dois nas últimas eleições) e elegeu prefeitos em diversos municípios de todo o país.
No entanto, cindido entre o projeto de tornar-se um partido de massas e de sucesso eleitoral e o resistente traço esquerdista radical de boa parte de suas tendências, o PT mais e mais embrenha-se numa luta autofágica. Lula, a "direita" e o "centro" do partido parecem cada vez mais inclinados a seguir o caminho do pragmatismo político.
As tendências de esquerda e seus aliados ainda agem, infelizmente, como se a agremiação devesse limitar-se a contestar o "statu quo", tal como ocorrera quando de sua criação, no final dos anos 70.
É esse o grande dilema do partido hoje. Ou bem aceita a vocação de disputar o poder com boas chances de eleger representantes e governantes, o que implica a criação de um programa afirmativo de administração e a aceitação de alianças, ou terá de, cada vez mais, agarrar-se a pequenos, mas extremamente barulhentos grupos (a exemplo do MST) que, no mais das vezes, não têm outras propostas a não ser a de sair em defesa de seus próprios interesses, notadamente corporativos.
O PT vive uma crise de adolescência, mas tem inevitavelmente de escolher o seu caminho, sob pena de ele afinal se autodestruir.

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