São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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FUJIMORI E O PERU

O histórico autoritário dos sete anos do governo de Alberto Fujimori, aliado à recente cassação de um empresário das comunicações, que "ousou" exibir um vídeo a respeito de torturas no país, deixa mais do que clara a natureza do regime.
Eleito em 1990, Fujimori, dois anos depois, deflagrou o que foi chamado de autogolpe: fechou o Congresso, interveio no Judiciário, censurou a imprensa e outorgou amplos poderes aos militares sob o pretexto de combater o terrorismo.
Tendo conseguido controlar uma inflação, que atingiu 3.000% ao ano em 1989 e após capturar as principais lideranças do grupo terrorista Sendero Luminoso, o presidente peruano obteve amplo apoio da população. Conseguiu até mudar a Constituição, o que lhe deu o direito de disputar a reeleição, e aprovar a pena de morte para terroristas.
Recentemente, superou, "manu militari", a grave crise envolvendo os reféns feitos na casa do embaixador japonês. Há, entretanto, sérios questionamentos acerca das circunstâncias da morte do único refém na operação, um juiz que lhe fazia oposição. Apesar de tudo isso, Fujimori vê agora sua popularidade caindo de forma surpreendente (11 pontos percentuais em nove dias, segundo o instituto Apoyo, já acusado de ser favorável ao presidente).
Vencer a batalha contra a alta de preços e, parcialmente, contra a demência das teses guerrilheiras não parece ter sido suficiente para a consolidação do apoio popular.
Ainda que a história da América Latina tenha eleitoralmente premiado os dirigentes que foram capazes de controlar a inflação, parece cada vez mais claro que essa tarefa é necessária, mas não suficiente para garantir, de forma mais permanente, a satisfação da sociedade.
A prosseguir a tendência peruana, parece que o velho truque latino-americano de romper os limites da democracia sempre que o governante de turno achar conveniente já não é uma solução. O que será bastante positivo para a ainda incipiente democratização do subcontinente.

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