São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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O suicida assassino

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Vou correr o risco de escrever sem que a história esteja totalmente fechada, mas é tão fascinante que não dá para resistir.
Refiro-me aos indícios, desta vez abundantes, de que o atentado contra o avião da TAM teria sido praticado pelo passageiro Leonardo de Castro, que, dias depois, teria se jogado na frente de um ônibus, para morrer atropelado (perdão pela repetição do verbo no condicional).
Talvez seja a primeira das tragédias brasileiras que poderia ser vendida a Hollywood para a produção de um daqueles filmes psicológico-policiais que os norte-americanos fazem com razoável competência. No mínimo, daria uma minissérie formidável para a não menos competente Central Globo de Produções.
Que diabo de psiquismo se esconde em uma pessoa que resolve transformar sua tentativa de suicídio em um verdadeiro espetáculo, arrastando consigo eventualmente pessoas que o suicida nem conhecia?
O que faz alguém que quer apenas matar-se passar a assassino, ao matar um total desconhecido para ele, na frustrada tentativa de suicídio aéreo?
A propósito, quem é a mulher que, segundo o noticiário da Folha, recolheu a agenda de Leonardo, caída no chão quando ele foi atropelado pelo ônibus? E o que contém a agenda?
Meu receio é o de que a moda pegue, como pegou a de largar bebês no lixo, tão logo se divulgou o primeiro caso. O pior é que não há como evitar o efeito imitação, a menos que as empresas aéreas passem a exigir, além do RG, atestado de sanidade mental de seus passageiros.
O fascínio não fica na história em si, mas alcança o fato de que a polícia, tão criticada, desta vez fez o que deveria fazer sempre: investigou. E o fez em profundidade, checando o perfil de cada passageiro até dar com detalhes estranhos na vida e personalidade de Leonardo.
Caso ao que parece esclarecido, sem torturas. Dá para fazer sempre.

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