São Paulo, domingo, 20 de julho de 1997
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Acorda, Fernando Henrique!

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Quando policiais armados se unem a partidos políticos e a funcionários públicos sem reajuste salarial há três anos, tudo pode acontecer.
Alagoas é um extremo, mas não um caso isolado.
Pernambuco, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Paraíba, sem falar de Minas Gerais (o estopim) exigem algum tipo de solução drástica.
FHC tem arrepios ao pensar em intervenção. Mário Covas emprega seu vozeirão para dizer que os governadores não aceitam intervenção unilateral decidida em Brasília.
Mas quem repõe o ano escolar de 180 mil crianças sem aula em Alagoas? Quem mantém a ordem onde a polícia está aquartelada? Quem, em última instância, garante a vida de um governador preso no seu palácio? E a dos cidadãos?
Na sexta-feira, o senador e ex-governador Esperidião Amin (PPB-SC) andava pelos corredores do Congresso com a cópia de uma edição do "Diário de Pernambuco". Manchete: "Exército defende Arraes".
A simbologia é incrível: o mesmo Exército que em 64 depôs, prendeu e constrangeu o então governador Miguel Arraes é o que, hoje, três décadas depois, é obrigado a defendê-lo da sua própria polícia.
Isso só mostra que os tempos são outros. E que instrumentos que foram identificados com os duros tempos de ditadura podem agora ser aplicados, como exceção, na democracia.
Essa é a opinião, por exemplo, do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, a mais alta Corte do país. Constituição aberta no artigo 34, ele aponta o inciso III e diz que a intervenção é legal e legítima quando há comprometimento da ordem pública.
Algo pode comprometer mais a ordem pública do que policiais jogando coquetéis molotov contra o prédio do Tribunal de Justiça, como em Alagoas? E trocando tiros nas ruas?
Cada caso é um caso. Mas cabe ao presidente da República ter coragem pessoal e política para apagar o pavio antes da explosão.
Não foi o que aconteceu em Alagoas, à beira de uma guerra civil. Só sobraram escombros.

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