São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 1997
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Clonada ovelha com gene humano

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os cientistas que assombraram o mundo em fevereiro com a clonagem de Dolly anunciaram ontem ter gerado Polly, um clone de ovelha que possui genes humanos.
O objetivo da nova técnica é obter rebanhos de animais capazes de produzir substâncias úteis em tratamentos médicos, como proteínas de sangue e leite humanos, por exemplo.
Polly e suas quatro irmãs foram obtidas pelo Instituto Roslin e pela empresa PPL Therapeutics, de Edimburgo (Reino Unido). Representam a união pioneira de duas técnicas usadas até hoje de maneira isolada: a clonagem e a engenharia genética.
Dolly foi o primeiro clone obtido a partir de uma célula de outro animal adulto. Polly e suas quatro irmãs -os animais são virtualmente idênticos entre si- foram criadas a partir de células de tecidos fibrosos de fetos.
Outra diferença é que as "células originais" de Polly foram modificadas geneticamente antes de o processo de clonagem começar. Só depois é que o embrião foi inserido no útero de sua "mãe de aluguel".
Por isso, Polly e irmãs são animais chamados de transgênicos, ou seja, têm genes de outra espécie. Os genes determinam as características de cada indivíduo. Cada gene é responsável pela produção de uma determinada proteína.
Embora a tecnologia de obtenção de animais transgênicos seja um sucesso comprovado, ela depende muito de procedimentos de tentativa e erro. Às vezes, o gene inserido não "vinga" no novo animal.
O uso da clonagem combinado com a alteração genética permitirá aos pesquisadores obter diretamente as modificações genéticas já conseguidas.
Reprodução natural
Mas a equipe diz que não vai produzir clones em massa. "Só vamos fazer alguns poucos. Vamos fazer reprodução natural para obter o número necessário, porque essse método é mais efetivo", disse Ron James, diretor-executivo da PPL Therapeutics.
Se os novos clones gerarem outros animais com genes humanos, a pesquisa terá sido vencedora, afirmou. "Nosso primeiro passo é fazê-los crescer."
Três dos cinco animais obtidos na nova experiência possuem genes humanos de importância terapêutica, disse James. Mas ele não revelou que tipos de genes foram utilizados.
Os outros dois animais, que não receberam genes humanos, têm apenas "marcadores genéticos", isto é, eles serão utilizados para efeito de acompanhamento do crescimento das "irmãs".
Os cinco animais nasceram no mês passado e não serão utilizados para produzir substâncias de uso comercial porque não vêm do rebanho da companhia que está livre da "scrapie", a variante da "doença da vaca louca" que atinge carneiros, segundo a PPL.
O processo de Dolly
No processo da clonagem de Dolly, os cientistas removeram células da glândula mamária de uma ovelha adulta e delas retiraram os núcleos, que contêm o material com as informações genéticas. Antes disso, eles fizeram essas células pararem de se reproduzir.
Em seguida, eles injetaram esses núcleos em oócitos removidos de uma outra ovelha adulta. Os oócitos são células que dão origem ao óvulo, ou seja, a célula sexual feminina.
O passo posterior foi reativar o novo conjunto celular montado, isto é, fazê-lo retomar sua função reprodutora.
Uma parte das células foi cultivada em laboratório e passou a se duplicar, começando a formar o embrião de Dolly. Colocado em "ovelhas de aluguel", ele deu origem a uma réplica de sua "mãe", a ovelha de que foi retirado o material genético.

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