São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Motta comemorou 'pito' do presidente

Elogio à sua ação no ministério agrada tucano

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Alguns auxiliares do presidente Fernando Henrique Cardoso chegaram a insinuar, na segunda-feira passada, que a solução da crise passava pela demissão do ministro Sérgio Motta (Comunicações).
Naquele dia, PFL e PMDB aguardavam uma posição de FHC sobre a entrevista em que Motta criticou aliados e membros do governo.
Serjão fez críticas a ministros do PMDB, a Pedro Malan (Fazenda), Bresser Pereira (Administração) e indiretamente até ao presidente.
FHC estava no Rio de Janeiro. Voltou no final da manhã para Brasília. O avião presidencial fez escala em São Paulo, onde desembarcaram sua mulher, Ruth Cardoso, netos e o ministro das Comunicações.
Durante o vôo, Motta teve a companhia de um de seus alvos na entrevista: o ministro da Justiça, Iris Rezende, considerado uma decepção por Motta. Trocaram apenas cumprimentos secos na entrada e na saída do avião.
FHC não falou do assunto durante todo o vôo. Além de Iris Rezende, voltavam para Brasília com FHC o chefe da Casa Militar, general Alberto Cardoso, Clóvis Carvalho e o porta-voz Sergio Amaral.
No primeiro trecho da viagem, FHC ficou em seu gabinete no avião presidencial com a mulher e netos. Na segunda etapa, entre São Paulo e Brasília, convocou uma reunião com Iris, Clóvis, Cardoso e Amaral para tratar da crise das PMs.
No desembarque em Brasília, Clóvis Carvalho comentou que estava "arrasado" com a entrevista de Motta. Disse que gostava de Serjão, mas que não podia apoiá-lo naquele momento.
A decisão de convocar Motta para uma conversa no Palácio da Alvorada, comunicada por Sergio Amaral na segunda-feira à tarde, fez com que o PFL e PMDB esperassem pelo dia seguinte.
"A conversa entre os dois (FHC e Motta) foi dura. Ele deu um ultimato a Serjão. O presidente vai falar mais tarde desautorizando publicamente o ministro", comentou um auxiliar de FHC na terça-feira de manhã.
O presidente acabou frustrando os amigos pefelistas e peemedebistas que esperavam um pito público em Serjão. Quem falou, mais uma vez, foi o porta-voz.
Na avaliação de assessores de FHC, a fala do porta-voz foi muito fraca. Não adiantava dizer que a conversa no Alvorada foi dura, porque foi reservada. A opinião pública não ficou sabendo como ela foi.
A gota d'água foi o almoço dos tucanos em solidariedade a Serjão na casa do deputado José Aníbal.
Aos ouvidos de pefelistas chegou a versão de que Sérgio Motta havia reiterado todas as críticas feitas na entrevista. O almoço teria ocorrido num tom de comemoração.
Na terça-feira à tarde, o líder do governo na Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), já havia tomado a decisão de renunciar em represália às críticas de Motta e ao fato de FHC não ter criticado seu ministro publicamente.
À noite, num jantar no Palácio do Jaburu, residência do vice Marco Maciel, Luís Eduardo informou aos líderes do PFL que entregaria o cargo no dia seguinte.
Na quarta-feira, Luís Eduardo foi ao Palácio do Planalto entregar o cargo. Segundo pefelistas, FHC teria dito: "Se for preciso, eu demito o Serjão".
O presidente licenciado do PFL, Jorge Bornhausen, comentou depois com líderes do seu partido que também ouviu de FHC a mesma promessa.
Luís Eduardo acabou ficando, depois que o presidente prometeu censurar publicamente seu ministro das Comunicações e garantir que ele não se intrometeria mais na articulação política do governo.
O PFL acabou conseguindo o que queria. FHC, constrangido, falou no Palácio do Planalto. Repreendeu Serjão, mas não deixou de elogiá-lo pela atuação no Ministério das Comunicações.
Ao tomar conhecimento da íntegra da fala do presidente, Serjão comemorou com auxiliares. Foi criticado, mas também elogiado pelo amigo FHC.

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