São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Acidente aéreo faz surgir novo passageiro

MAURO TAGLIAFERRI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma classe especial de passageiros de avião vem surgindo, desde o final do ano passado, em decorrência dos últimos acidentes aéreos ocorridos no país.
Mais temerosos, eles não deixaram de viajar, mas se tornaram mais atentos aos procedimentos de vôo, de segurança e até ao funcionamento da aeronave.
Termos como reverso, turbina, relé, fuselagem, foram incorporados ao vocabulário desses passageiros, que também tomaram consciência de que os aparelhos devem passar por manutenção e os tripulantes, por treinamento.
"Com tantas reportagens sobre os acidentes, acabamos aprendendo alguma coisa, nem que seja pela própria sobrevivência", disse o vendedor Dênis Tavares Silveira Leal, 24, que viaja de duas a três vezes por mês entre São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.
Leal contou que agora observa mais o comportamento dos tripulantes. "Se um funcionário não está trabalhando bem, é possível que haja outros problemas", explicou.
Outra que declarou se preocupar com o treinamento da tripulação foi a analista de sistemas Sônia Cruz, 35. "Rezo para o piloto ser experiente, principalmente nas horas de aterrissar e decolar, que são as piores."
Já a psicóloga Mônica Ramos Pinto, 26, disse que presta mais atenção às normas de segurança. "Não ligava tanto para isso antes, mas agora quero saber o que fazer no caso de uma emergência."
O programador Sadi Filimberti, 38, que faz ao menos duas viagens aéreas por mês, relatou que prefere um exame visual no avião. "Fico olhando, vejo se ele está inteiro, se não está acontecendo algo."
Mesmo antes de deixar o solo, os usuários do transporte aéreo dizem que estão mais observadores.
A estagiária em direito Maria Gabriela Soares, 22, por exemplo, reparou nas medidas de segurança no aeroporto Santos Dumont, no Rio, de onde embarcou na quarta-feira passada. "Passaram um detector de metais em mim. Isso não acontecia antes."
Até quem não sai do chão presta mais atenção aos aviões. De tanto ouvir o ruído das aeronaves, a secretária Marisa Almeida Souza, 47, contou que já sabe calcular se elas estão abaixo da altitude normal. "Eles reduzem a velocidade bem aqui em cima. Quando um passa mais baixo, até paro de respirar."
Marisa mora, há dez anos, no 19º andar de um edifício em Moema (zona oeste de SP). Os aviões passam a cerca de 300 metros acima da cabeça dela. "O avião faz parte da vida de quem mora por aqui."

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