São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Dólar forte sustenta expansão não inflacionária

OSCAR PILAGALLO
EDITOR DE DINHEIRO

Com a disparada do dólar na semana passada, que acentuou a tendência de valorização nos mercados internacionais, a moeda norte-americana reforçou seu papel de principal sustentáculo do mais longo período de expansão econômica dos Estados Unidos.
Não fosse a alta do dólar, que segura a inflação ao baratear as importações, é provável os juros tivessem de ter sido elevados para garantir a estabilidade dos preços.
Os números não deixam dúvida sobre a influência positiva do câmbio valorizado na estabilidade.
Estudo divulgado na revista "Business Week" mostra que em quase dois anos, entre julho de 1995 e maio último, enquanto o dólar teve alta de 17%, os preços dos produtos importados caíram 3,6%, excluído o petróleo.
No período anterior, quando o dólar estava mais fraco, esses preços subiram 7%, pressionando o índice de inflação.
A influência do dólar valorizado não se limita aos preços dos produtos importados. Ela se estende aos similares americanos que, devido à competição externa, também têm seus preços contidos.
Foi em parte por isso que Alan Greenspan, presidente do Fed (o banco central norte-americano), descartou a elevação dos juros em depoimento prestado ao Congresso na semana passada.
O dólar não é a única rédea dos preços. O próprio Greenspan atribui grande importância aos ganhos de produtividade que resultaram dos investimentos em novas tecnologias feitos pelas empresas nos últimos anos.
O impacto desses ganhos sobre a inflação, no entanto, não é tão facilmente mensurável como no caso do câmbio. Tanto que a posição de Greenspan está longe de ser consensual entre os formuladores da política monetária.
O fator câmbio representou, isoladamente, um ponto percentual por ano a menos no índice de inflação desde meados de 1995.
A diferença não é desprezível, considerando-se o baixo patamar em que oscila a taxa dos Estados Unidos. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que está em 2,3% ao ano, deve chegar a dezembro um pouco acima de 2,5% e fechar 1998 em torno de 3%.
A contribuição do dólar mais do que compensou os aumentos salariais que, embora modestos, teriam feito a inflação subir se fossem a única variável. No segundo trimestre, os salários estavam em média 1,4% mais elevados do que um ano antes em termos reais.
O que o mercado se pergunta é até quando a estabilidade dos preços poderá continuar contando com o dólar valorizado.
Não há nada que indique uma reversão de tendência a curto prazo. A demanda por dólar deve-se menos à rentabilidade oferecida pelos investimentos nos Estados Unidos do que à boa forma em que se encontra a economia do país.
O avanço do dólar descreve, assim, um círculo virtuoso: a valorização segura os preços, o que permite crescimento com estabilidade, o que valoriza a moeda.
O que pode estragar a festa são as contas externas. Os Estados Unidos têm um déficit comercial crônico e crescente que está encostando nos US$ 200 bilhões.
Quanto mais o dólar se valoriza, mais o país importa. A conta da estabilidade, como no Brasil, é paga pela balança comercial. Só que lá, onde o dólar é emitido, isso preocupa menos.

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