São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O Prêmio Adorno

DA REDAÇÃO

Em 1995, num episódio pouco conhecido de sua carreira, o diretor Jean-Luc Godard foi agraciado com o Prêmio Theodor W. Adorno, um dos mais prestigiosos no meio intelectual europeu. O prêmio homenageia o filósofo do mesmo nome (1903-1969), autor de "Minima Moralia", com o qual Godard "compartilharia o soberano controle do material artístico e a rigorosa reflexão teórica", segundo os jurados.
Leia, a seguir, um trecho do discurso de Godard na ocasião da entrega do prêmio em Frankfurt e um excerto do discurso de homenagem ao diretor feito pelo sociólogo Klaus Theweleit.

Jean-Luc Godard
"Pois o cinema, sobretudo, era um novo modo -jamais visto- de chamar as coisas pelo seu nome, uma maneira, que se tornou imediatamente popular, de ver os pequenos e grandes acontecimentos, e que passou a reivindicar prontamente o mundo inteiro. Em resumo, o cinema era feito para pensar e, portanto, para curar as enfermidades.
Tudo isto aos poucos foi se tornando claro para mim quando percebi que estava acompanhado, desde meu nascimento, por essa segunda história de que falava Braudel, aquela que nos acompanha a passos lentos. Foi quando me dei conta, após vários filmes, meus e de outros, de que não havíamos mostrado os campos de concentração. Curto e grosso, havíamos falado deles, mas não tínhamos mostrado nada."

Klaus Theweleit
"Godard, suíço nascido em Paris em 1930, sempre teve no mínimo duas nacionalidades, indo e vindo de um país a outro, tendo duas residências, do mesmo modo que se dividiu por muito tempo, no plano artístico, entre a Alemanha e a América. Hoje, a Alemanha (não mais do que a América) não é, para Godard, nem um país de 'lumières' (luzes), nem um país dos (irmãos) Lumière, mas um país de sombras e obscuridades. (...) Em seu filme "Allemagne Neuf Zéro" (1992), Godard passeia por Berlim, a observa, a filma, realiza em estúdio a montagem que lhe faz declarar que o dinheiro é a forma que toma o espírito na Alemanha, e que o dinheiro pode imaginar tanto Auschwitz quanto Hiroshima."

Trechos extraídos da revista "Trafic", nº 18, primavera de 1996.

Texto Anterior: Um turbilhão sonoro
Próximo Texto: Um teorema solar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.