São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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"A fé é telúrica, essencial"

CARLOS HEITOR CONY

"Eu não vejo a fé como uma questão de tolice, nem como uma questão de força. A fé é uma coisa essencial, telúrica do homem. Há uns quatro anos, tive um problema de saúde e me aconselharam a falar com um amigo meu de seminário que hoje é bispo.
Ele sabe que sou ateu e me disse uma frase que me impressionou muito: 'Nós temos necessidade da fé porque existe alguma coisa'. Eu falei: 'Não, até aí você está propondo a coisa pela prova, não é argumento'. Ele disse assim: 'O homem tem sede porque tem muita água. Se o universo não tivesse tanta água o homem não teria sede. Então, existe sede porque existe muita água, o que levaria à idéia de que essa sede que a gente tem do infinito, da espiritualidade, da eternidade, de um ser superior que nos guia e rege é uma tendência quase fisiológica do homem, ou melhor, se o corpo tem a sua fisiologia própria, que o obriga a ter sede e fome, o espírito que vivifica a matéria teria essa necessidade de água, que seria, no caso, Deus'.
Eu respondi o contrário: 'Existe muita água, por isso tem fé. Poderia inverter os termos'. É uma questão muito ampla. Não se chega nunca, não se chegará nunca a um resultado. Há uma tendência hoje de, por meio da ciência, querer justificar a fé. Não que a ciência vá provar a fé -isso jamais fará-, mas admitem que a ciência será complementar à fé. Eu não acredito nisso."

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