São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997 |
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Falso suspeito de Atlanta vive atormentado
KEVIN JOHNSON
Não conseguiu um emprego estável desde seu malfadado bico como segurança nos Jogos Olímpicos. Na semana passada, abandonou o último deles após somente um dia, frustrado por não ter conseguido o emprego com que sonhava: policial. Sua única tentativa de namoro desde o atentado terminou quando a candidata, Hollis Gillespie, vendeu a reportagem "Minha Noite com Richard Jewell" a uma revista. Ela escreveu: "Ele foi um gentleman completo. Não tinha o jeito de 'Unabomber' emprestado a ele pelos comediantes". Jewell, 34, que pretendia convidar Gillespie para sair mais uma vez, balança a cabeça em reprovação. "Não sou mais o mesmo", diz ele. "Fiquei cínico. Não confio em ninguém. Estou perdido, mas todos sabem quem sou." Três dias depois de ser aclamado herói por ajudar a retirar as pessoas do parque Centenário em 27 de julho do ano passado, após a descoberta da bomba que matou duas pessoas e feriu mais de cem, o "Atlanta Journal and Constitution" o apontou como suspeito. Mais tarde seria revelado que o FBI o enganou quando o levou a dispensar o advogado a que teria direito durante os interrogatórios iniciais. E que o mesmo órgão colocou um microfone em um de seus amigos para que fossem gravadas conversas sobre o atentado. Nas buscas no pequeno apartamento que Jewell dividia com a mãe, foram revistadas até as gavetas de roupas íntimas dela. A cozinha foi desmontada. Do lado de fora da casa, havia uma legião de repórteres acampados. Hoje, o FBI não está nem um pouco mais perto de encontrar o verdadeiro autor do atentado do que estava naquele dia de outubro em que anunciou que Jewell não era mais um suspeito. Enquanto a cidade comemora o primeiro aniversário da Olimpíada, ele está no mesmo lugar onde passou muito de seu tempo desde a bomba: no escritório de seus advogados. "Perseguindo os monstros que levaram meu orgulho embora" -o FBI e o "Atlanta Journal and Constitution". "Quem vai devolver minha vida? Quem vai devolver minha antiga vida? Quem vai devolver minha confiança, a confiança que eu tinha nas pessoas?" "Minha mãe ainda está paranóica. Ela acha que todos estão vigiando. Sua pressão sanguínea está alta. Isso vai afetá-la para sempre." Jewell acha que tem direito a uma "prestação de contas", o que em jargão de advogados quer dizer "compensação". As redes de TV NBC e CNN e uma rádio local já lhe pagaram indenizações. Jewell não diz, mas estima-se que a NBC tenha pago até US$ 500 mil. Mas ele diz ter gasto a maior parte nos honorários de seus advogados. "Não sou rico, de jeito nenhum", diz ele. Mas instalou a mãe num apartamento novo. Suas unhas estão roídas. Ele diz que perdeu os quase 18 kg que engordou quando estava sob investigação. "Tudo que eu fazia era comer e jogar videogames." Agora, ele é consumido pelas batalhas legais. A pior tem sido contra o jornal de Atlanta. Os depoimentos estão apimentados com obscenidades contra os acusados. Assim como o FBI, o editor do "Constitution" John Walter não comenta o teor dos processos legais. Mas reitera a decisão de que não haverá acordo de indenização. "Fomos escolhidos porque fomos os primeiros a relatar que Jewell havia se tornado o centro da investigação", diz Walter. "O fato é que o nome se tornaria público quando revistassem seu apartamento. Em nossa democracia, pessoas ficam machucadas pela publicidade... A vida continua." Texto Anterior: País vence instabilidade política, mas não a pobreza Próximo Texto: FBI divulga retrato falado de testemunha Índice |
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