São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Seleção de embriões

Novos textes conseguem prever doenças gênicas no tubo de ensaio
POR DEBORAH GIANNINI
As mulheres com dificuldade em engravidar agora têm uma vantagem em relação às que engravidam naturalmente.
Na fertilização artificial já é possível prever se o embrião, óvulo fecundado, apresenta algumas doenças gênicas ou cromossômicas e dar preferência à transferência de um embrião normal ao útero, descartando os demais.
"Você analisa quatro embriões, se um deles apresentar problema, mas os outros estiverem bons, então se transfere apenas o sadio. Se a mulher engravidar, sabemos que o bebê não vai ter o tipo de doença analisado", diz o professor da Universidade Federal de São Paulo Eduardo Motta, um dos sócios da Clínica de Reprodução Humana Huntington, que está realizando o teste no Brasil em conjunto com o Instituto de Medicina Fetal e Genética Humana.
A nova técnica, chamada de biópsia embrionária, consiste em retirar uma célula do embrião em torno do terceiro dia de vida, quando tem de 8 a 16 células, por meio de uma micropipeta. A célula retirada, que não irá causar prejuízos ao embrião, vai para o laboratório, e os cromossomos, localizados no núcleo das células, são tingidos.
Uma sonda genética, que pode ser para um gene ou para um cromossomo inteiro, se fixa ao cromossomo e emite um sinal fluorescente. Por meio desse sinal, ela identifica o cromossomo estudado.
"Na síndrome de Down, no cromossomo 21, em vez de aparecer 2 pontos fluorescentes, aparecem 3. Então, sabemos que aquele embrião apresenta a doença", diz Thomas Gollop, diretor do Instituto de Medicina Fetal e Genética Humana.
A síndrome de Down, causada pela presença de um cromossomo a mais na célula, tem maior incidência em mulheres acima dos 35 anos, justamente as que mais procuram esse tipo de fertilização. Nessa faixa etária, de cada 100 bebês, um nasce com a doença. Entre as de 20 anos, a proporção é de 1 a cada 1.500.
"Mulheres acima dos 35 anos têm um risco maior de anomalias por divisão celular", afirma Gollop.
Outras doenças como a hemofilia, distrofia muscular, fibrose cística e anemia falciforme também são previamente diagnosticadas nesse novo teste.
"Temos 23 pares de cromossomos. Podemos identificar as doenças relacionadas aos cromossomos 16, 18, 21, X e Y", diz Eduardo Motta.
Até então, os únicos métodos para diagnosticar esses tipos de doenças eram a biópsia da placenta e a amniocentese, testes que só podem ser feitos no terceiro mês de gravidez e implicam 0,5% de risco da perda do bebê.
"A biópsia embrionária ainda não substitui esses exames, apenas serve de complementação", afirma Motta. O índice de precisão do novo teste é de 95%, o dos outros dois, 100%.
Segundo ele, o novo teste está sendo realizado há dois meses em todas as pacientes acima de 35 anos que se submetem à fertilização artificial na Clínica de Reprodução Humana Huntington.
"Fazemos o exame para o diagnóstico de pré-implantação e depois confirmados esse resultado com os exames de biópsia de placenta e amniocentese", afirma Motta.
Filho único de proveta
A probabilidade de ter trigêmeos ou quadrigêmeos com a fertilização artificial deve diminuir.
Tradicionalmente, nesse tipo de fertilização o óvulo é reunido ao espermatozóide em laboratório, e os embriões (óvulos fecundados) são transferidos ao útero, no terceiro dia de vida.
Se o homem apresenta baixa produção (menos que 20 milhões de espermatozóides por ml de sêmen), o espermatozóide é injetado ao óvulo.
Eram transferidos quatro embriões para o útero a fim de que pelo menos um fosse implantado. O que acontecia, na maioria das vezes, era que quatro ou três se fixavam e se desenvolviam, resultando em trigêmeos ou quadrigêmeos.
No passado, era muito difícil deixar o embrião evoluir até o quinto ou sétimo dia de vida fora do útero, pois o meio de cultura, líquido que tenta imitar o líquido da trompa da mulher, tinha de ser mais complexo.
Hoje há um novo de método de cultura de blastocisto, que torna possível esperar o embrião crescer até o sétimo dia, fase em que ele apresenta um maior número de células e está quase pronto para ser implantado ao útero. A possibilidade da gravidez prosseguir torna-se muito maior.
"A taxa de implantação desse embrião, que no sétimo dia de vida chama-se blastocisto, é de 60%. Então, como a taxa é alta, não é preciso transferir muitos embriões, mas no máximo dois", afirma Eduardo Motta.
Com essa nova técnica evita-se os riscos da gravidez múltipla. Segundo Motta, 35% dos trigêmeos não conseguem completar o sétimo mês de gravidez, o que pode levar a alterações decorrentes da prematuridade, como má formação do pulmão.
"O embrião se forma na trompa e demora cinco dias para chegar ao útero. Nesse momento, ele estaria pronto para se implantar. Se você o implanta nessa data, estaria imitando a natureza", diz Motta.

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