São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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Quando pais participam, rede pública tem bom desempenho

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma avaliação da qualidade do ensino que a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo aplicou no ano passado derrubou um mito construído desde a década de 60: o de que a escola particular é sempre melhor do que a escola pública.
Os resultados do Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), aplicado a alunos de 3ª e 7ª séries mostram que, na média, os alunos das escolas públicas estaduais realmente têm um ensino deficiente.
Mas há um grupo dessas escolas -a maioria no interior- que está formando alunos com desempenho semelhante ao de estudantes de boas escolas particulares.
Isso ocorre especialmente da 1ª à 4ª série estadual -e não por acaso. Desde meados da década passada, a 1ª e a 2ª séries vêm recebendo atenção especial de governos do Estado e municípios.
Em 1984, essas duas séries viraram o Ciclo Básico -o CB, no qual não se reprova. Isso implicou reformulação do currículo, avaliações mais frequentes, novos materiais pedagógicos e treinamento em serviço para professores.
Em 1986, o CB foi reforçado com a Jornada Única, que aumentou de quatro para cinco horas diárias a permanência da criança na escola.
A 3ª série da rede estadual -seguinte ao CB- teve média de 70% em português, 55% em redação e 65% em matemática. As cem melhores na 3ª série ficaram com 89% em português, 75% em redação e 84% em matemática -semelhantes às notas de 19 escolas privadas.
Entretanto, na 7ª série, que não recebeu a mesma atenção que o CB, as médias foram muito mais baixas (veja quadro).
"Hoje não trabalhamos com a idéia de escola pública ou particular, mas de ensino de boa qualidade e ensino de má qualidade", diz o secretário adjunto da Educação de São Paulo, Hubert Alquéres.
A análise dos resultados do Saresp aponta que, além do investimento em professores (salários e cursos) e no currículo, a participação da comunidade na escola contribui para a melhoria do ensino (em cidades pequenas isso ocorre quase naturalmente).
Ter coordenador pedagógico -o que a maioria das particulares já tem- também melhora o desempenho da escola.
Mas esse também um dos fatores que aumenta o custo da boa escola. Quase todas as particulares que participaram do Saresp têm mensalidades acima de R$ 300. Algumas cobram o dobro disso.
Para oferecer um preço mais baixo, uma escola pode ter de cortar despesas (contratar menos coordenadores, não remunerar trabalho fora de sala de aula e pagar salários mais baixos), o que baixa a qualidade do ensino.
Em São Paulo, o exemplo mais conhecido de escola estadual bem-sucedida é a Experimental da Lapa, ou, no nome oficial, EEPG e Cefam Dr. Edmundo de Carvalho.
"A 1ª à 4ª série daqui não deixa a dever a nenhuma escola particular", afirma a mãe de aluna Solange de Souza. A Experimental sempre teve coordenador pedagógico, treinamento em serviço para os professores e intensa participação da comunidade.
Em 1996, as mães brigaram tanto com o governo para manter sua pré-escola que, neste ano, a Secretaria de Estado da Educação proibiu a reportagem da Folha de entrar na escola, para "evitar uma superexposição na mídia".
A Escola Estadual de 1º Grau Prof. Theodoro de Moraes (Mooca) também teve seus alunos de 3ª série bem colocados no Saresp. Nesse caso, a escola é pequena (270 alunos, quando a média é mil), o que permite maior troca de experiências entre os professores. Mas, por ser pequena, está ameaçada de fechamento pelo governo.
Quanto melhor a formação dos pais, melhor o desempenho dos alunos e da escola. Isso não se deve apenas ao fato de que essas crianças têm em casa mais acesso à cultura escolar -como livros e brinquedos educativos (leia na pág. 6).
"A classe média tem consciência de seus direitos, tem condições de exigir, tem parâmetros do que é uma educação de qualidade", diz Weisz. Ou seja, colocar o filho em uma escola pública implica ter que lutar pela melhoria do ensino.
(FR)

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