São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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Detentos aidéticos valorizam temporada de internação

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Melhorar de saúde e voltar para o "inferno" da prisão ou piorar de vez, a ponto de receber indulto para poder morrer ao lado da família.
Essas são as duas trágicas situações às quais está sujeita a maioria dos presos aidéticos internada temporariamente no Hospital Central do Sistema Prisional de São Paulo.
"A penitenciária é um inferno, onde morremos um pouco a cada dia. A nossa dor aumenta quando retornamos para o cárcere", disse Luiz Berto de Souza, 33, que soube estar infectado com o vírus HIV há um ano e meio, quando entrou na Penitenciária do Estado, condenado por assalto.
"Os alvarás de soltura são destinados aos presos aidéticos em fase terminal", disse a diretora-clínica do Hospital Central, Silvia Maria Carvalho da Costa.
No mês passado, por exemplo, dos 31 pacientes internados no hospital, 15 morreram, sete (doentes terminais) receberam alvará de soltura e nove retornaram para as prisões de origem.
Os presos infectados que conseguem reagir à doença valorizam a estada no hospital. "Melhor aqui do que na detenção. Cheguei ao hospital em cadeira de rodas e agora estou andando", disse A.S.M., 34, condenado a 54 anos de reclusão por sete assaltos e um latrocínio (roubo seguido de morte).
O Hospital Central tem três alas com capacidade para 35 pacientes. No último dia 18, estavam internados 27 presos (25 homens e duas mulheres). Segundo Silvia Maria, as outras vagas não podem ainda ser preenchidas por falta de funcionários.
"Precisaríamos de pelo menos mais dez médicos para atender ao hospital com sua capacidade máxima", disse a diretora.
A.S.M., que cumpre pena na Casa de Detenção de São Vicente (litoral sul paulista), disse ter contraído o vírus HIV na prisão, com o uso de droga injetável.
"A gente compra um grama de cocaína por R$ 10, dentro da prisão. A droga é levada para dentro da detenção por familiares ou por funcionários. A seringa -usada para injetar cocaína, utilizada por vários presos- é conseguida na enfermaria da prisão, por um maço de cigarros", contou.
Segundo ele, os presos dependentes de drogas costumam usar cocaína injetável duas vezes por dia.
"Atualmente, estão trocando o coca pelo crack, que é mais barato e a loucura (o efeito) é maior", disse o preso.

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