São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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Negro paga menos na peça "Cabaré da Raça", do Olodum

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

O Bando de Teatro Olodum adotou um critério racial para definir os preços do seu próximo espetáculo, "Cabaré da Raça", com estréia prevista para a próxima sexta-feira, às 21h, no Teatro Vila Velha, em Salvador (BA).
O público negro terá um desconto de 50% no ingresso. O Bando de Teatro Olodum é formado exclusivamente por atores negros.
Para o diretor do Bando de Teatro Olodum, Márcio Meireles, a decisão é mais uma ousadia do grupo: "Nós queremos mostrar como a cultura negra está sendo projetada na mídia e debater se negro é cor ou raça e se o candomblé é seita ou religião, por exemplo."
Os ingressos custam R$ 10. Estudantes e negros pagam R$ 5.
Discriminação
Para o advogado criminalista Técio Lins e Silva, a decisão do grupo é uma "discriminação sui generis". "A discriminação racial é proibida, só que a habitual é contra negros."
Apesar de a discriminação racial ser proibida pela Constituição, Lins e Silva afirmou que não vê conteúdo criminal na atitude do grupo e que o grupo pode ser autuado em flagrante caso qualquer cidadão comunique o fato para uma autoridade policial. "A lei é dura contra o crime de discriminação racial. Se o grupo fosse autuado, abriria-se um processo com pena criminal que é a prisão dos responsáveis."
Para o vice-presidente da Comissão Internacional de Juristas, Dalmo Dallari, a atitude do grupo é prática de racismo, previsto no artigo 5, inciso 42 da Constituição Federal: "A prática de racismo é crime inafiançável e imprescritível, sujeito a pena de reclusão".
Segundo Dallari, a simples notícia do fato pode levar o Ministério Público local a intervir e interditar o espetáculo por ordem judicial.

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