São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 1997
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Falsas lideranças no país dos esquecidinhos

ALOYSIO BIONDI

Quais as previsões e promessas que a genial equipe FHC/BNDES fazia para a sociedade brasileira no começo deste ano? Ah, empresários e trabalhadores iriam atingir o nirvana total, pois até problemas de "ajuste" da economia provocados pelo Real seriam superados. Tudo? Tudo, tudinho mesmo. Até o desemprego? Até a retração da indústria? Tudo, poxa.
Relembre-se, por exemplo, as maravilhosas previsões do governo FHC feitas por intermédio do Ipea -Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, do Ministério do Planejamento, no início de 1997. Seu diretor Cláudio Considera, em longa entrevista (Folha, 1/2/97), trombeteou uma promessa "científica": "Emprego na indústria poderá reaparecer", isto é, a indústria deixaria de demitir como vinha fazendo há dois anos.
Considera disse que "a recuperação do emprego ocorrerá em um quadro de recuperação geral da indústria, que deverá crescer entre 5% e 6% neste ano". Uma visão paradisíaca, para trabalhadores e empresários, vitimados pelo desemprego e queda dos negócios desde o escancaramento do mercado.
É essa a história do governo FHC, e dos últimos três anos da sociedade brasileira. Enquanto a crise avança, periodicamente a equipe governamental inventa uma "explicação científica" para acenar com dias melhores. Só que eles estão cada vez mais distantes.
Em julho último, a indústria paulista voltou a acelerar o ritmo de demissões, com 0,5% de redução na força de trabalho -em apenas um mês. As vendas do comércio, no Dia dos Pais, acusaram queda de 20% em relação a 1996. Os supermercados acusam queda de 0,7% nos primeiros sete meses, frustrando as previsões de crescimento de até 5% para este ano. (O Ipea? Continua a dizer que o PIB vai crescer este ano.)
Diante desse quadro cada vez mais negro, a equipe FHC inventou uma nova teoria -otimista, claro. Diz que está havendo reação nos setores de base (máquinas e equipamentos), capaz de compensar a retração nas vendas de bens de consumo. A tese merece tanto crédito quanto as "previsões" anteriores, de recuperação do emprego industrial e da própria indústria, feitas pelo governo FHC no começo do ano. Ou as previsões de um saldo positivo na balança comercial, feitas por Mendonça de Barros, Gustavo Franco e Pedro Malan ao longo de três anos.
O irrealismo da equipe FHC é desesperador. Mais exasperante ainda é a conivência de entidades empresariais com a incompetência e irresponsabilidade dos gênios de Brasília. De mãos dadas, estão destruindo a economia nacional.
Amarelo
Quando a confiança em um cliente ou país diminui, os banqueiros internacionais aumentam o nível dos juros -para compensar o risco maior. Na semana passada, um grande banco brasileiro suspendeu a emissão de títulos no exterior, porque o "mercado" exigiu juros mais altos. Sinal de menor confiança. Não no banco. No Brasil.
Enxurrada
Aumentou a entrada de dólares no país, em julho. Prova de confiança? Não. O governo fez novas concessões aos especuladores estrangeiros. Entre elas, a venda de títulos do Banco Central com correção cambial. Se houver desvalorização do real, os espectadores receberão a correção. Conta mais alta, rombo maior. E o "mercado" sabe perfeitamente que, quando um devedor oferece vantagens extras, é porque precisa de uma saída.
Bolsas
Esta coluna rejeitou as interpretações otimistas de que as Bolsas haviam despencado, em julho, apenas devido à crise na Ásia. Previu que a queda continuaria. Em agosto, a Bolsa paulista já recuou 8%.
Previsões
Rombo na balança comercial, queda na produção e desemprego crescente foram previsões feitas por esta coluna, no começo do ano passado, diante da "política econômica do governo FHC".
Na época, a coluna acenou, também, com a possível volta da inflação no segundo semestre de 1996. Esse (único) erro pode ser parcialmente justificado: o colunista não acreditou que a política de "terra arrasada", com destruição de empresas, empregos e poder aquisitivo fosse levada tão longe. Isto é, o governo FHC destruiu o poder de consumo -e assim chegou até à inflação negativa, à deflação.

Aloyiso Biondi, 60, é jornalista econômico. Foi editor de Economia da Folha. É diretor-geral do grupo Visão. Escreve às quintas-feiras no caderno Dinheiro.

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