São Paulo, sábado, 16 de agosto de 1997
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Espiritualidade e cidadania

EMÍLIA FERNANDES

O mundo convive atualmente com profundos conflitos nas diversas áreas da atividade humana, como resultado das atuais relações sociais, políticas e, principalmente, econômicas estabelecidas entre os países.
Tal situação se reflete de forma aguda não apenas no terreno material, por meio do desemprego, da concentração de renda e da exclusão social, que crescem a cada dia, mas também nos campos filosófico, moral e ético, com visível deterioração de valores fundamentais à convivência humana.
Diante disso, o ensino religioso pode ser importante no fortalecimento do exercício da espiritualidade, bem como para o debate, a preservação e o desenvolvimento de valores como a tolerância, a fraternidade, a igualdade e o respeito ao próximo e à vida.
Fundamentado nos princípios bíblicos, ministrado de uma forma ampla, abrangendo todas as crenças e com professores com direitos e deveres comuns, o ensino religioso transforma-se em mais um espaço relevante para a formação de crianças e jovens.
O cumprimento desse objetivo exige o respeito a determinados preceitos básicos, como a dimensão ecumênica, a busca do senso humanístico e o compromisso com a ação espiritual.
No entanto, se, em vez disso, a sala de aula transformar-se em mero palco de pregação religiosa, no sentido da imposição de determinada linha ou corrente, a liberdade de crença fica prejudicada, o mesmo podendo ocorrer com o papel do ensino religioso, que perderia sua condição de instrumento democrático de crescimento dos futuros cidadãos.
A prática efetiva da religião deve ser do livre-arbítrio das famílias, em um primeiro momento, e dos próprios jovens, levada a efeito nas respectivas igrejas ou demais locais destinados ao exercício da fé, seja qual for a sua definição.
A crise moral, a superexposição de crianças e adolescentes a toda sorte de informações, em grande parte deseducativas e deformadas, e a urgência de definir novos patamares mais civilizados para as relações humanas impõem a utilização de todos os espaços de questionamento, troca de idéias e integração social.
É importante, portanto, que, respeitada a liberdade individual, esse momento da vida escolar seja valorizado, não apenas na preparação para o pleno exercício da espiritualidade, mas também no desenvolvimento da solidariedade, do espírito coletivo, do amor ao próximo e à humanidade.

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