São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 1997
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A mágica do Banespa

CELSO PINTO

As ações PN do Banespa já subiram 930% neste ano e 1.800% em relação a novembro do ano passado. Se as informações que vazaram ao mercado e os cálculos de algumas instituições financeiras estiverem corretos, as ações poderão subir ainda mais.
O extraordinário comportamento das ações do Banespa tem tudo a ver com o acordo de refinanciamento da dívida paulista, que talvez seja votado nesta semana pelo plenário do Senado. Com o acordo assinado, será possível publicar o primeiro balanço do Banespa desde 1993.
O mercado aposta que os números transformarão o Banespa de um dos maiores micos do mercado num sucesso. Enquanto o balanço oficial não vem, vários números têm circulado, ajudando a turbinar o preço das ações do Banespa.
Em 1993, antes da intervenção do Banco Central, o Banespa tinha um patrimônio líquido de US$ 1,6 bilhão. No mercado, fala-se que o patrimônio do Banespa, hoje, estaria em R$ 3,8 bilhões, número mágico que tem ajudado a empurrar as ações nos últimos meses. Algumas instituições financeiras têm feito suas próprias estimativas entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões.
Se o patrimônio do Banespa chegar aos R$ 3,8 bilhões previstos, o valor patrimonial da ação do Banespa vai superar R$ 100. Ontem, a ação do Banespa fechou a R$ 47,50, muito abaixo do seu valor patrimonial.
Com números desse tipo, qualquer comparação fica apetitosa. As ações do Bradesco e do Itaú, por exemplo, estão sendo negociadas por em torno de 1,8 vez seu valor patrimonial. O Credireal acabou de ser privatizado por um valor equivalente a 1,2 vez seu valor patrimonial. Teoricamente, portanto, a ação do Banespa tem potencial ainda para dobrar de preço.
É claro que, até que sejam publicados os balanços de 94, 95 e 96 do Banespa, tudo isso são especulações, exceto para quem eventualmente conheça os cálculos oficiais. Existem, contudo, boas razões para fundamentar essas projeções.
O problema principal do Banespa era ter algo entre 80% e 90% de seus ativos em empréstimos ao Estado de São Paulo. Eles rendiam fantasticamente, a uma taxa equivalente ao que o Banespa pagava para captar no mercado interbancário (CDI), mais 0,5% ao mês. O drama do banco era que essa receita era contabilizada a cada mês, mas jamais paga, e o débito chegou a tal proporção que tornou-se impagável sem alguma ajuda de Brasília.
O acordo de refinanciamento que está sendo discutido deverá tornar essa ficção contábil em realidade, já que o Banespa será pago com títulos federais. Não é um paraíso para o banco: calcula-se que, sem a ajuda contábil das receitas dos empréstimos ao Estado de São Paulo, o Banespa ficará com um buraco operacional de uns R$ 100 milhões ao mês. No entanto, o patrimônio do banco sairá engordado.
Além disso, o governo Fleury, em bancarrota, acabou pagando ao Banespa com ações da Cesp e da CPFL. Quando isso foi feito era mais uma esperteza de Fleury, já que a Cesp estava quebrada. Com a recuperação da Cesp, no governo Covas, e a valorização de suas ações, a esperteza virou uma bênção. Um banco calcula que só as ações da Cesp e da CPFL nas mãos do Banespa valem hoje algo entre R$ 1 bilhão e R$ 1,4 bilhão.
O Banespa será privatizado e, entre os interessados potenciais, fala-se nos grandes bancos brasileiros (Bradesco e Itaú), além do Boston, do Citi, do Bilbao Viscaya, do Texas Pacific, do Nations e do Republic. O Banespa tem mais de 500 agências no Estado de São Paulo e tornou-se um banco cobiçado depois do acerto da dívida e da entrada do HSBC no mercado brasileiro.
Outras ações de bancos candidatos à privatização também tiveram forte valorização. As PN do Bemge subiram quatro vezes, e as do Banrisul, quase duas vezes.
O Banco Matrix lançou, há 40 dias, um fundo exclusivo de ações de bancos, de R$ 30 milhões, apostando em ganhos com reestruturação, privatizações e aquisições. Comprou BCN e Noroeste, mas a maior posição, de longe, é Banespa. O fundo já ganhou 23%, segundo Roberto Ruhman, sócio do Matrix.

E-mail: CellPinto@uol.com.br

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