São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Investimento direto traz déficit maior'

Unicamp contraria governo

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao contrário do que afirma a equipe econômica do governo Fernando Henrique Cardoso, a atual entrada maciça de investimentos diretos estrangeiros no Brasil vai agravar, e não reverter, o crescimento do déficit da balança comercial do país.
Essa é a principal conclusão de um estudo da Universidade de Campinas (Unicamp) sobre a estratégia do investimento direto no Brasil nos anos 90.
Para o governo, o crescimento do investimento direto estrangeiro deve alcançar o recorde entre US$ 13 bilhões e US$ 15 bilhões em 97. Para especialistas, esse resultado poderá ter impacto negativo na balança comercial a curto prazo porque gera aumento nas importações de bens de capital.
Porta-vozes da equipe econômica, notadamente o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, costumam dizer que esse impacto negativo desapareceria a médio e longo prazos.
Na avaliação do governo, a nova capacidade produtiva resultante do investimento direto criaria excedentes de exportação.
Mas o professor Mariano Laplane, do Instituto de Economia da Unicamp, um dos autores do estudo, rebate o que chama de "hipótese otimista" do governo.
Para chegar a essa conclusão, o estudo, coordenado por Laplane e pelo pesquisador Fernando Sarti, da Unicamp, analisou projetos de investimento de 79 empresas transnacionais.
"Não há evidências no nosso estudo que corroborem essa hipótese otimista porque os investimentos se concentram na produção de bens finais de consumo para o mercado interno."
Laplane argumenta que a hipótese do governo não se sustenta porque o investimento direto está criando condições para a manutenção e até o agravamento do déficit comercial.
"À medida que crescem o mercado interno e a produção para o mercado interno, aumenta a demanda da importação de componentes e insumos."
Laplane diz que o próprio governo reforça sua tese ao usar, frequentemente, a estratégia de segurar, por meio do encarecimento do crédito e de restrições às importações, o crescimento do mercado interno para evitar o aumento do déficit comercial.
A pesquisa da Unicamp mostra que, de 1994 a 1997, mais da metade dos investimentos estrangeiros foi para setores voltados para a produção de bens destinados ao mercado interno: automobilístico (25,3%), eletrônico (12,7%) e químico-farmacêutico (19%).

Texto Anterior: Bovespa oscila com opções e fecha estável
Próximo Texto: Entrada de capital externo não cobre o rombo no 1º semestre
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.