São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 1997
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Muitos e nenhum

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Se alguém quiser entender por que Fernando Henrique Cardoso tem todas as chances de se reeleger presidente da República, pode seguir um de dois caminhos:
1 - dedicar-se a um profundo trabalho de análise política e sociológica sobre os efeitos da inflação baixa na popularidade de quem é tido como responsável por ela e/ou sobre as composições políticas em que a elite brasileira é campeã indiscutível;
2 - examinar o mapa de votação da eleição para o comando da CUT (Central Única de Trabalhadores), realizada domingo.
Ali, vai-se ver uma sopa de letrinhas que mesmo veteranos militantes de esquerda terão dificuldade em entender. Há de tudo, até uma Liga Bolchevique Internacionalista, que teve 16 votos.
Nada contra os bolcheviques. Mas a coisa começa a complicar quando é preciso explicar do que se trata, tanto tempo passou desde que eles formavam a ala majoritária do partido que tomou o poder na Rússia, na Revolução de 1917.
Fica a nítida sensação de que a esquerda brasileira continua incapaz de unir-se até na prisão, como dela se dizia antigamente.
Ou de que está eternamente à procura de um palácio de inverno para ocupar, como fizeram os bolcheviques russos com o Palácio de Inverno de São Petersburgo (ex-Leningrado) em 1917. Pena que, no Brasil, o único palácio com esse nome fique em Campos do Jordão, uma cidade improvável como ponto de partida para a revolução proletária.
Fossem só os bolcheviques, vá lá. Mas há os trotskistas, os comunistas, a Articulação e a Articulação de esquerda, se é que alguém de fora consegue saber a diferença entre uma e outra.
É, no fundo, o mesmo estilhaçamento que ocorre entre os grupos políticos que se dizem de esquerda.
Tudo somado, não é que FHC não tenha adversários. Tem tantos que acabam não somando um sequer. Porque não somam. Dividem-se.

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